Artículo/Article
Orinete Costa Souza* & Rubens da Silva Ferreira**
*Universidade
Federal de Rondônia (UniR), Brasil
** Faculdade de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Pará
(FABIB/ICSA/UFPA), Brasil.
E-mail:
orinetesouza@hotmail.com; rubenspa@yahoo.com
Resumo: Estudo sobre a vida e a obra do médico cirurgião e documentalista Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann (1927-2007), fundador do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Pará (UFPA). Com o objetivo de recuperar a dimensão profissional do homem que colocou seu conhecimento a serviço da Medicina e da Biblioteconomia, foi realizado um estudo de natureza qualitativa, fundamentado na história oral, mais precisamente no método biográfico, combinado à pesquisa documental, à bibliográfica e à realização de entrevistas abertas e conversas informais junto aos familiares, amigos e ex-alunos. A memória recuperada pelas evidências destaca os feitos marcantes da vida de Clodoaldo Beckmann que fizeram com que o nome dele entrasse para a história da Medicina e da Biblioteconomia no Pará.
Palavras-chave: Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann; Biografia; Biblioteconomia; Medicina; Universidade Federal do Pará.
Clodoaldo Beckmann (1927–2007): The surgeon and documentalist dedicated to Librarianship
Abstract: Study about the life and work of the surgeon and documentalist Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann (1927-2007), founder of the Librarianship at the Universidade Federal do Pará (UFPA). It has the objective of recover the professional dimension of the man who has put his knowledge at service of the Medicine and Librarianship a study of qualitative nature was conducted, it was based on oral history, more precisely by biographic method, allied to documental and bibliographic research and the realization of open interviews and informal conversations with relatives, friends and ex-students. The memory recovered by evidences point the remarkable accomplishments of the Beckmann’s life that made his name entered into the history of Medicine and Librarianship in Pará.
Keywords: Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann; Biography; Librarianship; Medicine; Universidade Federal do Pará.
Ao completar 52 anos da Biblioteconomia na cidade de Belém, estado do Pará, Brasil, exatamente no dia 28 de janeiro de 2015, o presente trabalho procura fazer uma homenagem à memória daquele que foi o responsável pela criação desse curso de bacharelado na Universidade Federal do Pará (UFPA): o médico cirurgião e documentalista Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann (1927-2007). Nessa direção, tem-se como objetivo recuperar a dimensão profissional da pessoa que colocou seu conhecimento a serviço tanto da Medicina quanto da Biblioteconomia, áreas distintas do saber das quais ele jamais se afastou em vida. Tal como pode ser constado neste estudo, Clodoaldo Beckmann deixou contribuições importantes nessas duas áreas do conhecimento que, em abstração, podem ser unidas sob a perspectiva da informação que dá sustentação às suas práticas acadêmicas e profissionais.
Procurando conhecer quem foi e os fatos que marcaram a vida de Clodoaldo Beckmann, desenhou-se um estudo seguindo uma estratégia de investigação qualitativa. Desse modo, foram combinadas orientações metodológicas da pesquisa bibliográfica, da pesquisa documental e da história de vida, esta última produzida a partir do método biográfico que, aliás, ainda tem sido pouco explorado na Biblioteconomia e na Ciência da Informação1. As evidências que permitiram conhecer Clodoaldo Beckmann, bem como os feitos marcantes ligados à vida dele foram obtidos com a realização de entrevistas abertas e conversas informais com familiares, amigos, colegas de trabalho e ex-alunos. Além disso, o acesso a documentos de caráter profissional e pessoal, principalmente fotografias, mostrou-se essencial para a realização deste exercício biográfico.
Nesse contexto, após esta introdução o trabalho segue desenvolvido em mais três partes. A parte segunda traz o detalhamento metodológico deste estudo. Na parte terceira têm-se os elementos biográficos de Clodoaldo Beckmann propriamente ditos, tais como sua origem, formação acadêmica e trajetória profissional, sobretudo na UFPA, local em que trabalhou dedicadamente ao longo de toda a vida. Aqui, aspectos de sua personalidade também são traçados, seja como um homem de brincadeiras reservadas às pessoas mais próximas, um apaixonado pela esposa, pai disciplinador, carinhoso e poeta de grande sensibilidade, seja como chefe e professor exigente com os colaboradores de trabalho e com os alunos dos cursos de Medicina e de Biblioteconomia. Ainda na parte terceira, a dimensão profissional recuperada sobre Clodoaldo Beckmann destaca a atuação dele não somente na Biblioteconomia como também na Medicina, sendo esta a área em que se diplomou para só depois encantar-se com os conceitos e com as práticas relacionadas ao tratamento documental/informacional. O estudo procurou arrolar ainda o trabalho de Clodoaldo Beckmann no campo da cultura e nas associações de classe ligadas à Medicina, nas quais ocupou funções ora como membro ora como presidente. Em seguida, tratado do último desejo do médico cirurgião e documentalista, o trabalho se ocupa das palavras finais sobre o homem que definitivamente deixou suas marcas na história da Medicina e da Biblioteconomia no Pará.
O estudo agora socializado é fruto de uma abordagem qualitativa. Conforme Chizzotti (2010), essa modalidade de pesquisa envolve diversas áreas do conhecimento nas Ciências Sociais e Humanas. Precisamente, a palavra qualitativa é usada para se referir aos estudos “[...] com pessoas, fatos e locais que constituem objeto de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível [...]” (Chizzotti, 2010: 28). Entre as várias estratégias de pesquisa possíveis enquadradas nessa abordagem, o estudo sobre Clodoaldo Beckmann foi conduzido pela história de vida, ou seja, aquela que consiste no estudo “retrospectivo” sobre a vida de alguém, podendo ser obtida de forma oral ou escrita, procurando destacar os fatos significativos da pessoa biografada (Chizzotti, 2010: 101). Com efeito, o método biográfico é apenas uma dentre as muitas maneiras de se trabalhar a história de vida, ajustando-se perfeitamente ao propósito deste estudo.
Segundo o Dicionário Aulete ([200-]), a biografia pode ser definida como: “História escrita sobre a vida de uma pessoa, livro, filme, peça de teatro etc. que apresenta uma biografia (1), liter. Gênero literário em que é narrada a história de uma pessoa”. Chizzotti (2010: 102), por sua vez, de forma complementar e mais específica, a define como “[...] a narrativa de vida de uma pessoa, feita por outrem, que, com base em documentos, hipóteses e orientações teóricas, constrói a vida do biografado" no sentido da biografia clássica. O autor ainda ensina que a biografia teve origem na Antiguidade, quando Platão biografou a vida de Sócrates, sendo posteriormente aperfeiçoada como método no século XX na Escola de Chicago, precisamente por Thomas e Znanicki, difundindo-se tão amplamente ao ponto de ser considerada um gênero literário. Alberti (2000), sobre esse aspecto, observa que a história oral ganha força pela crescente valorização da subjetividade e da experiência individual em direção ao conhecimento do passado, o que tem induzido o boom de publicações biográficas no Brasil e no exterior. Todavia, na pesquisa científica ela ganha força com a ajuda da pesquisa documental e com o uso de entrevistas, procurando tratar a vida do biografado sem sensacionalismo e dentro de limites éticos, uma orientação importante, sobretudo, quando se ocupa de alguém que já não se encontra fisicamente entre os vivos para defender sua honra dos exageros e dos desvios às vezes cometidos pelos biógrafos.
Precipuamente, ao utilizar o método biográfico pode-se, de um modo geral, compreender a história de vida de uma pessoa, a fim de que não se deixe desaparecer a importância e a memória dela na sociedade em que viveu. Por isso, de acordo com Moraes (2009), em suas formas variantes de pesquisa, a biografia desvela a vida de sujeitos que, de algum modo, encontram-se ocultos em vários períodos históricos, o que torna o acesso a documentos e a realização de entrevistas estratégias fundamentais em direção à construção de narrativas sobre pessoas reais, estejam estas vivas ou não. E conforme orienta Vasconcelos (2007: 210, 215), no estudo sobre pessoas o pesquisador deve se utilizar de arquivos pessoais (fotografias, diários, cartas e outros) e fontes relativas à vida cotidiana, no que se inclui, quando necessário, o uso de e-mail “para a troca de informações escritas ou em voz [...]”. Diga-se de passagem, esse último recurso foi importante, por exemplo, no contato com Lúcia Beckmann, quem forneceu gentilmente, via correio eletrônico, o material fotográfico e as informações profissionais e pessoais sobre o pai.
Documentos de Clodoaldo Beckmann também foram obtidos em diferentes órgãos, tanto públicos quanto privados. Entre esses órgãos têm-se a UFPA, o Conselho Estadual de Cultura do Estado do Pará, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões, o Conselho Regional de Medicina e o Colégio Nazaré. Já os dados de natureza primária foram coletados por meio de entrevistas abertas e por conversas informais junto a amigos, colegas de trabalho na área da Biblioteconomia e da Medicina e, principalmente, junto aos familiares do biografado, o que se fez conforme a disponibilidade de tempo e as condições emocionais dos colaboradores que se dispuseram a remexer suas memórias para delas respirar alegrias, tristezas e saudades (Vasconcelos, 2007). Duas colaboradoras preferiam fazer registros escritos por meio do computador e fornecê-los aos autores por e-mail, ou por pen-drive. Outros dois informantes se dispuseram a ceder entrevistas, todas elas gravadas com o auxílio de telefone celular. De maneira complementar, algumas memórias e depoimentos foram manifestados informalmente, sendo por isto registrados como notas, em caderneta de campo.
Além da pesquisa documental também se fez uma pesquisa bibliográfica. Tal como ensina Eco (1996), a pesquisa bibliográfica é uma etapa fundamental em qualquer empreendimento acadêmico, consistindo basicamente na identificação e na seleção de fontes que possam dar sustentação teórica aos estudos. Nesse sentido, livros, capítulos de livros, trabalhos publicados em anais de ventos e artigos de periódicos sobre biografia, Biblioteconomia, a história da UFPA e sobre os acontecimentos ligados ao período em que Clodoaldo Beckmann viveu, entre outros assuntos, foram essenciais para contextualizar este trabalho que, dentro de certos limites metodológicos aceitáveis, resulta também das escolhas e das omissões dos autores em relação aos longos anos de vida do biografado. Assim, embora o que se segue esteja longe de esgotar quem foi e o que fez Clodoaldo Beckmann, tem-se ao menos um conhecimento capaz de fornecer aos familiares, amigos, docentes, discentes e aos bibliotecários um esboço biográfico daquele que foi o responsável pela criação do curso de Biblioteconomia na UFPA, construindo os alicerces para que muitos homens e mulheres continuem a trilhar por esta profissão no estado do Pará e não somente nele, posto que muitos e muitas migram para trabalhar em outros estados da federação.
Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann (Figura 1) nasceu na capital do estado do Pará, Belém, precisamente no dia 6 de março de 1927. Era filho de José da Fonseca Beckmann, técnico em contabilidade, e de Anna Ribeiro Beckmann, dona de casa. Teve como irmãos Carmen, Cláudio e Cléa, todos filhos do primeiro casamento do pai que, viúvo, veio a casar-se outra vez, constituindo nova família, em que foram gerados os irmãos Carlos, Cássio, Célio, Clóvis e Crisolete. Depois de alguns anos, José Beckmann separou-se da segunda esposa e casou-se com a terceira mulher, vivendo uma relação que gerou mais nove filhos, a saber: Arthêmio, Dayse, Maria da Graça, João Antônio, Paulo, Cristina, Sandra, Socorro, José Manuel. Sendo assim, Clodoaldo Beckmann teve, ao todo, dezessete irmãos2.
Figura
1. Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann (1927–2007)
Fonte:
Arquivo da família Beckmann.
Ao perder a mãe aos 12 de idade, Clodoaldo Beckmann e o irmão Cláudio foram criados pelas tias maternas. Entrando na adolescência sem a presença materna e paterna, e em meio às dificuldades financeiras pelas quais passava, essa experiência não o afetou no desempenho escolar, tal como consta registrado em seus boletins com aprovações e com excelentes notas que permitem descrevê-lo como uma criança dedicada aos estudos, atitude esta que manteve ao longo de toda a vida acadêmica, refletindo-se também na vida profissional. Ao considerar as muitas experiências pelas quais Clodoaldo Beckmann passou, parte da biografia que se conseguiu produzir sobre ele segue enfocando os aspectos acadêmico, familiar e profissional.
Em seu processo de educação formal, Clodoaldo Beckmann passou por duas grandes escolas da capital paraense. No Instituto Nossa Senhora de Nazareth ele fez o ensino primário e secundário (1937-1942), e no Colégio Estadual Paes de Carvalho (CEPC) – um dos mais tradicionais da rede pública, em Belém – ele fez o curso científico (1943 - 1945), atual ensino médio. Já o ensino superior foi realizado na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, entre os anos de 1945 e 1950.
Aos 10 anos de idade, Clodoaldo Beckmann fez um teste para entrar no Instituto Nossa Senhora de Nazareth, obtendo excelentes notas. Nesse mesmo colégio ele permaneceu durante parte do ensino secundário. No ano de 1943, Clodoaldo Beckmann foi transferido para o CEPC, concluindo o ginásio em 1945 para depois prestar vestibular para a Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, no mesmo ano em que findava a II Guerra Mundial. O concurso de habilitação para Medicina ocorreu3 na manhã do dia 5 de fevereiro de 1945. Conforme ele mesmo relata, naquele dia chovia muito na capital paraense e, às vésperas, Clodoaldo Beckmann tivera uma noite mal dormida devido à revisão intensiva dos temas da prova. Dos 27 candidatos inscritos, a maioria vinha do CEPC, e dos alunos inscritos à habilitação, apenas 21 foram aprovados. Bem colocado na seleção, na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará Clodoaldo Beckmann teve destaque em sua turma, conquistando o prêmio “Raul Leite”, concedido ao concluinte que conquistasse excelentes notas durante os seis anos de graduação.
Além do curso de Medicina, Clodoaldo Beckmann fez outros cursos na área da saúde para complementar a formação. Participou, nessa direção, do curso em Traumatologia, Anatomia do Sistema Nervoso Central, Clínica Ginecológica, Ciências Naturais, Cirurgia do Aparelho Digestivo e outros. Foi também acadêmico interno da Clínica Cirúrgica da Santa Casa de Misericórdia. Em seu conjunto, esses elementos são indicadores do compromisso que o jovem médico cirurgião assumiu com uma profissão que lida com a vida humana, exigindo habilidade, responsabilidade, competência e conhecimento técnico-científico consolidado.
Dos 22 médicos que se formaram com Clodoaldo Beckmann, alguns seguiram para o exercício imediato da Medicina; outros buscaram a residência médica e a especialização. Clodoaldo Beckmann estava no grupo dos que foram logo clinicar. Quando no momento da especialização ele realizou estágios na área cirúrgica, na qual encontraria um futuro promissor. Conforme registra Bordalo (2008), em artigo especial publicado na “Revista Paraense de Medicina”, Clodoaldo Beckmann era exímio na realização de gastrectomias, tanto na técnica Billroth I quanto na técnica Billroth II. Em monografia defendida em 1954, intitulada “Estudo Propedêutico das complicações Abdominais Pós-operatórias”, o jovem médico cirurgião obteve média final igual a 9,8, o que já era esperado pela aplicação e pelo desempenho ao longo do curso4.
Em uma vida acadêmica e profissional exitosa, Clodoaldo Beckmann sempre reconheceu o papel da família, em especial de sua musa e esposa, dona Ceres Brasão Silva Beckmann, a quem conheceu por intermédio do cunhado. Como ela própria relata: “Ele era amigo do meu irmão. Em uma das visitas à minha casa para visitar meu irmão fomos apresentados, e, depois de algum tempo [não muito] começamos a namorar5”. Transcorrido o tempo de namoro o casal selou a união no dia 14 de junho de 1952 (Figura 2), em cerimônia religiosa e civil realizada na casa dos sogros. De uma longa união amorosa, que durou 55 anos, eles constituíram uma família que continua a crescer pelas mãos da geração de netos. Clodoaldo Beckmann e dona Ceres tiveram um casal de filhos, Lúcia Beckmann de Castro Menezes e Fernando Silva Beckmann. Esses, por sua vez, deram a eles quatro netos: André Beckmann de Castro Menezes; Aline Beckmann de Castro Menezes; Meg Acatauassú Beckmann e Fernanda Acatauassú Beckmann. Na linha de descendência do casal Beckmann, têm-se ainda dois bisnetos, Arthur Moreira Beckmann Menezes e Bruno Moreira Beckmann Menezes, os quais infelizmente não conheceram o bisavô em vida.
Figura
2. Cerimônia de casamento de Clodoaldo e Ceres Beckmann, em
junho de 1952.
Fonte:
Arquivo da família Beckmann.
Clodoaldo Beckmann sempre foi dedicado à família. A face do chefe de família foi conhecida pelo contato que um dos autores deste estudo teve com dona Ceres, com a filha Lúcia Beckmann, e com o neto, André Beckmann. Lúcia, por exemplo, fala das memórias sobre a relação entre o pai e a mãe, bem como do caráter paterno de Clodoaldo Beckmann. Segundo ela:
“Era maravilhoso. Ele a amava profundamente. Cuidava dela, a protegia, a mimava, gostava de vê-la sempre arrumada e bonita. É claro que eles brigavam, afinal, meu papai tinha um gênio danado [...]. Exigente, rigoroso, exemplo, conselheiro, piadista, implicante, justo [...]. Com os filhos ele era exigente em tudo. Comportamento, modos, linguagem, música, leitura, etc., ou seja, sempre se preocupou com a nossa educação formal e com a educação no sentido mais amplo6”.
Paradoxalmente à imagem evocada por amigos e familiares, que o revelam como um homem rígido e exigente, por outro lado tem-se um ser humano sensível que se revelava, entre outras coisas, no gosto pela poesia, fosse como leitor ou como o poeta que era. É assim que os entrevistados falam de um Clodoaldo Beckmann poético, que sempre fazia versos e os presenteava às pessoas de seu convívio. Esses “presentes” poderiam resultar de um chiste, ou ainda dos sentimentos por dona Ceres, neste caso, sempre carregados de amor e de romantismo, como em “A valsa”, oferecidos à companheira de toda uma vida, em que relembra o início do namoro em uma festa no clube social de Belém conhecido como Assembleia Paraense (AP).
No campo profissional, Clodoaldo Beckmann foi professor dos níveis de ensino secundário e superior, neste último atuando na Medicina e na Biblioteconomia. Foi também médico cirurgião, Pró-reitor de Planejamento, primeiro diretor da Biblioteca Central e do Curso de Biblioteconomia, conselheiro e presidente do Concelho Estadual de Cultura do Estado do Pará, assim como do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Entre os anos de 1948-1964 ele trabalhou como professor no ensino médio, lecionando em colégios tradicionais de Belém, tais como o Nazaré, o Santo Antônio e o Nossa Senhora do Carmo, nos quais ministrava disciplinas ligadas às ciências, a saber, Ciências físicas e Naturais, Química, História Natural, Anatomia e Fisiologia Humanas. Após a formatura, Clodoaldo Beckmann deu início à carreira de professor universitário em 1952. No curso de Medicina lecionou Anatomia do Aparelho Digestivo e Bases da Técnica Cirúrgica até 1985. No curso de Biblioteconomia ele esteve à frente das disciplinas Classificação (1963), Bibliografia e Referência (1963-1967), e Evolução do Pensamento Filosófico e Científico (Beckmann, 2007). Após a aposentadoria, o médico cirurgião retornou ao curso de Biblioteconomia nos anos de 1990 como professor visitante, dedicando-se exclusivamente à disciplina História do Livro e das Bibliotecas7.
No retorno ao curso de Biblioteconomia da UFPA como professor visitante, Clodoaldo Beckmann desempenhou papel importante na criação do Mestrado Interinstitucional em Ciência da Informação8. Mantido em convênio com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse curso resultou dos esforços dele na elaboração do projeto que contou com as contribuições da professora Maurila Bentes (FABIB/ICSA/UFPA). Nesse empreendimento foi fundamental a articulação de Clodoaldo Beckmann com a professora doutora Lena Vânia Ribeiro, pesquisadora do IBICT, ex-aluna do curso de Biblioteconomia da UFPA e amiga, sem a qual possivelmente o curso não teria se tornado realidade. Logo, há que se reconhecer a atuação dele para a qualificação do corpo docente9 do curso que criara em 1963.
A criação do curso de Biblioteconomia no dia 28 de janeiro de 1963 é, sem dúvida, um dos legados mais importantes de Clodoaldo Beckmann para a UFPA. Um feito que merece ser bem contextualizado quanto aos antecedentes históricos de sua institucionalização. Nessa perspectiva, ao se pensar o papel das bibliotecas no acesso à informação, no plano político, o Brasil dos anos de 1960 foi marcado pelo regime autoritário de um Estado que se definia como “modernizador”. Durante a presidência de João Goulart (1961-1964), segundo Souza (2009, p. 74), o país experimentou um processo de “repressão política e cassação de liberdades individuais” que se acentuou com Castelo Branco (1964-1964), precipuamente ao assinar o Ato Institucional nº 3, em fevereiro de 1966. Citado por Souza (2009) em meio a esse cenário de repressão, Galeano rememora de uma época em que livros de autores como Dostoievski, Tolstói e Gorki eram lançados na Baía da Guanabara. Pessoas opositoras ao regime ditatorial, por sua vez, eram exiladas, presas ou mortas diante do medo da disseminação de ideias comunistas no país.
No estado do Pará, como em todo o Brasil, o Ato Institucional nº 3 tornou possível o voto indireto, de forma que governadores e prefeitos passaram a ser nomeados pelo presidente da República (Souza, 2009). Foi exatamente por força desse instrumento que Alacid Nunes tornou-se prefeito de Belém em 1964 e, posteriormente, governador entre 1966 e 1971. Esse mesmo período foi tocado pelos estudos das bibliotecárias Ruthe Chelala, Alda Cunha e Clara Galvão (1975)10 sobre a realidade bibliotecária no Pará, apresentando dados oficiais sobre a educação e, por outro lado, quantificando e descrevendo o estado das poucas bibliotecas então existentes. Em uma perspectiva histórica, as autoras dividem o período de emergência da Biblioteconomia no cenário paraense em três fases: o de iniciação (1957-1962); o de formação (1963-1965); e o profissional, ou de profissionalização (a partir de 1966).
Por seu valor histórico, as evidências e as análises de Chelala, Cunha e Galvão (1975) são elementares para o livro escrito por Clodoaldo Beckmann, intitulado “Para a história da UFPA...”, publicado em 2007, no qual se dedica, entre outras coisas, a documentar o processo de criação do curso de Biblioteconomia na UFPA. Desse modo, no período 1957-1962 tem-se o despertar dos órgãos públicos locais para a necessidade do profissional bibliotecário, o que resultou nos esforços de treinar pessoal para atuar nas bibliotecas da capital. No período 1963-1965 é possível situar o envolvimento de profissionais de instituições no Pará em cursos superiores para a formação de docentes para o curso de Biblioteconomia da UFPA. E, por fim, no período de profissionalização, a partir de 1966, tem-se a atuação dos primeiros bibliotecários egressos desse curso universitário, bem como a criação dos órgãos de classe, a saber, o Conselho Regional de Biblioteconomia da 2ª Região (CRB-2) e a Associação Paraense de Bibliotecários (ASPAB).
Na capital paraense a falta de bibliotecários era notória na primeira metade do século XX. Como relatam Chelala, Cunha e Galvão (1975), para trabalhar na organização da biblioteca do Instituto Agronômico do Norte (atual Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA), em 1940 foi contratado o bibliotecário americano Francis Thorne. O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), por sua vez, só contou com bibliotecário em seu quadro profissional nos anos de 1950, com a vinda de Clara Maria Galvão, que trabalhava no Museu Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse período, o MPEG promoveu um curso de iniciação à Biblioteconomia com o objetivo de capacitar pessoal para o trabalho nas bibliotecas locais, contando com a colaboração de Plínio Abreu e de Consuelo Brígido Alves, ambos do quadro de bibliotecários do Instituto Agronômico do Norte. Dentre os 21 candidatos selecionados para esse curso, Chelala, Cunha e Galvão (1975) informam que apenas cinco buscaram a formação superior na UFPA, alguns dos quais vieram a atuar posteriormente como professores do curso de Biblioteconomia dessa universidade.
Nos anos de 1960 a iniciativa de promover cursos breves com conteúdos baseados em noções gerais e técnicas de Biblioteconomia prosseguiu no Pará, sendo um deles orientado por Ruthe Condurú no Centro Propagador de Ciências (Chelala; Cunha e Galvão, 1975). Todavia, com a regulamentação do exercício da profissão de bibliotecário pela Lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962 (Brasil, 1962), Beckmann (2007) analisa que essa estratégia se mostraria inviável nos anos seguintes. É nessa direção que Chelala, Cunha e Galvão (1975) falam da instalação da Biblioteca Central da UFPA, motivando o convite do então Reitor José da Silveira Netto para que Clodoaldo Beckmann viesse a geri-la, culminando tempo depois na criação de um novo curso de Biblioteconomia no Brasil11.
Durante a administração de Silveira Netto, o segundo Reitor da UFPA, toda a prioridade foi dada à criação do campus, em Belém. Conforme narra Silva (2003: 91), “ao final de 1968, tinham terminadas as obras de infraestrutura do setor básico e construídos os primeiros pavilhões de aulas e as Secretarias Gerais dos Cursos”. Assim, o novo campus da UFPA foi inaugurado em 13 de agosto de 1968, ocasião que contou com a presença do Presidente Costa e Silva. Como registra Fontes (2007), nesse ato, o engenheiro Alcyr Meira fez uma exposição sobre o conjunto universitário, inaugurado quatro anos após o início do projeto.
Com o convite do Reitor Silveira Netto, Clodoaldo Beckmann deslocou-se para a cidade do Rio de Janeiro no ano de 1961, a fim de participar do curso de especialização em Documentação Científica, no Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). Ao concluí-lo, o médico cirurgião deveria assumir o desafio de organizar e dirigir a Biblioteca Central da UFPA (Beckmann, 2007). Como o próprio Clodoaldo Beckmann relata, ele ficou surpreso ao receber o convite do Reitor, que decididamente já havia se encarregado de todos os preparativos:
“Preciso de ti para organizar a Biblioteca Central da Universidade. Vais estudar um ano no IBBD sob orientação de Lydia de Queiroz Sambaqui. Já tenho tudo preparado. Tua licença do cargo de médico do IAPB será concedida e a bolsa de estudos da CAPES já está aprovada” (Beckmann, 2007: 28).
Para Clodoaldo Beckmann, um apaixonado pela Medicina, ficar afastado por um ano das atividades para as quais havia se preparado como médico e cirurgião era algo desafiador.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, mesmo tendo que dedicar cinco horas do dia ao curso no IBBD, Clodoaldo Beckmann ainda encontrava tempo para praticar a Medicina. Dessa experiência ele relata que:
“Após as manhãs cirúrgicas no Hospital Andaraí, onde eu continuava minha prática profissional, vieram, no ano letivo, às cincos horas diárias de aula no IBBD, então dirigido pela extraordinária figura de Lydia de Queiroz Sambaqui. Encontrei nas aulas de Filosofia e História da ciência, Metodologia da pesquisa e de Procedimentos técnicos de bibliotecas um mundo novo que me abriu os olhos para aspectos da cultura aos quais eu estava alheio até então” (Beckmann, 1988: 5).
Ao término do curso, com duração de um ano, Clodoaldo Beckmann regressou a Belém como documentalista para colocar em prática o que havia aprendido no IBBD, sendo então nomeado por Silveira Netto para dirigir a Biblioteca Central. Após todo o trabalho de processamento técnico e de organização do acervo, a biblioteca foi inaugurada no dia 19 de dezembro de 1962. Nela, Clodoaldo Beckmann trabalhou como diretor entre 1962 a 1966, e, em uma homenagem recebia em vida, desde 2005 a biblioteca foi rebatizada com o nome dele.
Com a criação da Biblioteca Central, em 1962, e com a expansão da universidade, havia também que se contratar pessoal para trabalhar nos serviços técnicos e administrativos que se faziam necessários a um funcionamento regular. Nessa direção, a solução pensada por Clodoaldo Beckmann foi enviar pessoal para o IBBD, o que se fez com a historiadora Maria de Nazaré Moreira e com a odontóloga Maria Ilka da Silva Monteiro. Todavia, não haveria tempo suficiente para enviar todo o pessoal necessário e, além de disso, a medida representava um alto custo para a UFPA. Ademais, com a Lei n. 4.084, de 30/06/1962, tornou-se impossível a contratação de pessoal para o exercício da profissão de bibliotecário que não tivesse formação em cursos universitários de Biblioteconomia (Beckmann, 2007).
Foi em meio ao cenário de carência de bibliotecários no Pará que Clodoaldo Beckmann levou à Reitoria a proposta de criação do curso de Biblioteconomia. Como o Conselho Universitário não acreditou na necessidade nem na possibilidade de continuidade de um curso de bacharelado desse tipo, por um estratagema do próprio Reitor Silveira Netto, em 28 de janeiro de 1963, através da Resolução nº 1-A, criou-se o curso de Biblioteconomia da UFPA (Figura 3) (Beckmann, 2007). Nesse mesmo ano o curso funcionou no prédio então ocupado pela Biblioteca Central, na Avenida Governador José Malcher.
Figura
3. Primeira turma de Biblioteconomia formada pela UFPA, tendo
Clodoaldo Beckmann como paraninfo.
Fonte: Arquivo da família
Beckmann.
Com duração de três anos, o corpo docente do curso de Biblioteconomia da UFPA foi inicialmente composto por 10 professores, cujos nomes merecem ser registrados: Ápio Paes Campos; Benedito Nunes; Celia Ribeiro Zaher; Clodoaldo Beckmann; Francisco Paulo Mendes; Maria de Nazaré Calvis Moreira; Maria Ilka Monteiro; Nizeth Cohen; Tais Fialho; e, Vicente Eloi. Desses, apenas três tinham especialização pelo IBBD (Russo, 1966). A grade curricular, por sua vez, era composta pelas disciplinas: Bibliografia e Referência; Catalogação; Classificação; Documentação; Evolução do Pensamento Filosófico e Científico; História da Arte; História da Literatura; História do Livro e das Bibliotecas; Introdução aos Estudos Históricos e Sociais; Organização e Administração de Bibliotecas; e, Paleografia (Beckmann, 2007). Assim, a iniciativa que se mostrava insustentável aos olhos do Conselho Universitário da UFPA nos anos de 196012, consolidada, entra para o século XXI formando novos quadros de bacharéis e de bacharelas em Biblioteconomia para trabalharem não somente nos 144 municípios do estado do Pará, mas também em outras unidades da federação.
Uma vez tratada a atuação de Clodoaldo Beckmann junto à UFPA, faz-se necessário registrar a presença dele em outras instâncias. No Conselho Estadual de Cultura do Estado do Pará (CEC) ele trabalhou por quase 20 anos, inicialmente como conselheiro, depois como vice-presidente, e, por fim, como presidente.
Clodoaldo Beckmann foi nomeado conselheiro dia 29 de novembro de 1988 pelo então governador do Pará, Hélio da Mota Gueiros. Com o fim do mandato, em novembro de 1990, ele foi reconduzido ao posto por mais seis anos. Na eleição de 30 de dezembro de 1996, Clodoaldo Beckmann candidatou-se como vice-presidente e, eleito, exerceu o mandato por dois anos. Ao final desse período ele retornou como conselheiro, o que se repetiu em 2002. Em junho de 1998, com o falecimento do presidente do CEC, José Silveira Netto, Clodoaldo Beckmann passou a substitui-lo. O mandato de Silveira Netto duraria até dezembro de 1998, porém, por meio de eleição, Clodoaldo Beckmann permaneceu no cargo até 30 de dezembro de 2000. Em novembro de 2005 ele foi indicado como presidente do CEC por Almir Gabriel, então governador do Pará, mas, em razão do falecimento, não chegou ao final de suas funções.
Como leitor e divulgador da cultura, ao chegar ao CEC Clodoaldo Beckmann tomou conhecimento da “Revista de Cultura do Pará”, cuja circulação estava interrompida por falta de recursos financeiros. Decidido a reativá-la, criou um Conselho Editorial composto por ele próprio e por grandes nomes da cena acadêmica e cultural paraense, providenciou o registro do International Standard Serial Number (ISSN) e buscou parcerias para obter os recursos para a impressão dos novos fascículos. Junto à Gráfica da UFPA, Clodoaldo Beckmann conseguiu a produção de material gráfico e serviços de impressão. O periódico – que em sua versão original continha apenas textos de caráter administrativo e artigos internos – ganhou nova estrutura, incorporando artigos científicos, resenhas, ensaios e poesias, passando a ser distribuído nacionalmente. Em Belém, a Biblioteca Pública Arthur Vianna e a Biblioteca Central da UFPA possuem alguns números da “Revista de Cultura do Pará”. Infelizmente, em 2007, com o falecimento de Clodoaldo Beckmann, o periódico teve novamente a publicação interrompida. Após essa perda, um único volume em homenagem póstuma foi editado em julho de 2008, contendo os artigos “A morte reveladora de Clodoaldo Beckmann” e “Clodoaldo Beckmann”, da autoria João Carlos Pereira e de Jorge Alberto Langbeck Ohana, respectivamente13.
Inscrito no Conselho Regional de Medicina do Pará sob o nº 33, Clodoaldo Beckmann trabalhou no Hospital da Santa Casa de Misericórdia (1951-1981), no Hospital D. Luiz I – atual Beneficente Portuguesa (1952-1958) –, no Hospital Adventista de Belém (1955-1961) e na Casa de Saúde Santa Clara (1966-1984). Também exerceu a Medicina no Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) (1982), depois denominado Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), e, atualmente, Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Atuou nas Clínicas Cirúrgicas dos Homens (1951) e na Clínica Cirúrgica Infantil (1964) (Beckmann, 1991). No Rio de Janeiro, Clodoaldo Beckmann trabalhou como médico no Hospital Andaraí (1962) (Beckmann, 1988). Não é para menos que, sobre a atuação na Medicina, Bordalo (2008: 83) informa que “Clodoaldo Beckmann, – o médico – deixou sua marca indelével”, sobretudo pelo que fez no estado do Pará.
Para além do trabalho em hospitais, Clodoaldo Beckmann associou-se à Sociedade Médico Cirúrgica (1951- 1981), ocupando cargos de orador oficial (1959-1961) e de secretário-geral (1967-1969). Pela contribuição a essa Sociedade recebeu o prêmio “Camilo Salgado”, em 1973. Junto ao Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) desempenhou papel importante na história da Medicina no Pará. Entre 1954 e 1967 só existiam dois paraenses como membros Titulares (TCBC) e um como membro Associado (ACBC). Em 1971, Clodoaldo Beckmann tornava-se o mais novo filiado. Mesmo recebendo novos integrantes oriundos de diferentes estados do Brasil, o CBC não tinha um Capítulo no Pará, o que motivou Clodoaldo Beckmann a trabalhar pela criação de um.
No retorno a Belém, o médico cirurgião empenhou-se por arregimentar colegas para enviar novas propostas de TCBC e de ACBC ao Diretório do CBC. Do esforço de Clodoaldo Beckmann, no dia 9 de agosto de 1972, em uma solenidade no auditório do Centro Biomédico da UFPA era inaugurado O Capitulo do Pará, com a posse de 20 membros na modalidade ACBC e de 123 membros na modalidade TCBC (Pacheco Filho, 1983). Para além da filiação ao CBC, o currículo de Clodoaldo Beckmann registra também a participação dele na Associação Médica Brasileira, na Sociedade Paraense de Gastroenterologia, na Federação Brasileira de Gastroenterologia, no American College of Surgeons, no Collegium Internationale Chirurgiae Digestivae e na Sociedade Brasileira de Medicina Legal (Beckmann,1991). Diante de uma tal atuação muitas são as homenagens e as premiações acumuladas na Medicina, a exemplo de um diploma de honra e de uma medalha, ambos concedidos em 1980 pelo Colégio Internacional de Cirurgiões. Gestos simbólicos que reconheceram a contribuição de Clodoaldo Beckmann ao ensino e ao desenvolvimento da cirurgia no Brasil.
Na esfera da vida profissional, talvez nenhum outro lugar tenha sentido mais especial para Clodoaldo Beckmann do que aquele que foi sua “segunda casa”: a UFPA. Etimologicamente, a palavra casa vem do latim casa, com o sentido “morada, vivenda, habitação” (Cunha, 2012: 133). Seja no campo jurídico ou no pensamento coletivo, a ideia de casa remete sempre a um espaço privado, local de proteção no qual se desenrolam as relações familiares e são estabelecidos os afetos entre aqueles que o habitam, e que nele interagem por um tempo mais ou menos prolongado (Brasil, 1988; Bachelard, 2000). Como no ambiente doméstico, o local de trabalho é aquele em que os indivíduos passam boa parte do tempo de suas vidas, se relacionando com outras pessoas no exercício de suas funções. Nesse convívio podem ser observadas relações sociais dinâmicas tais como as que ocorrem na casa, a exemplo da cooperação e do conflito entre os indivíduos, bem como a expressão de sentimentos de amor, raiva, felicidade, admiração, tristeza e outros possíveis. Quando se tem uma identificação profunda com o local de trabalho, e, mais que isto, com as pessoas que nele convivem, esse local passa a ter importante papel na vida dos sujeitos, de maneira que eles se dedicam a cuidar tanto do local de trabalho quanto do local de moradia. Desse modo, é possível afirmar que na biografia de Clodoaldo Beckmann essa identificação com o local de trabalho se mostra muito presente e sentida.
Clodoaldo Beckmann trabalhou na UFPA entre os anos de 1950 e 1990. Como relata André Beckmann (Monteiro, 2009):
“Não há dúvidas de seu amor pela UFPA. Esta Universidade da qual foi aluno, ajudou a criar e que teve a honradez de homenageá-lo em vida, dando o seu nome à Biblioteca Central. Aliás, apesar de médico, criou vínculo indissociável com a Biblioteca e com o curso de Biblioteconomia, dos quais foi o responsável direto pela criação. Desta forma, que nos seus últimos dias, manteve presente em seus pensamentos esta ‘segunda casa’, quando decidiu simbolizar uma união eterna com a entrega de suas cinzas ao ‘campus’”.
As memórias do neto sobre o avô são relevadoras da relação intensa que Clodoaldo Beckmann manteve com essa instituição dedicada ao ensino, à pesquisa e à extensão. Uma relação entendida não apenas como profissional, mas também marcada pelo afeto, o que se refletiu especialmente no desejo manifesto de ter as cinzas depositadas no solo da universidade a qual se doou em vida.
Nos anos em que trabalhou na UFPA, Clodoaldo Beckmann teve outras experiências profissionais além do espaço da Biblioteca Central e da docência nos cursos de Medicina e de Biblioteconomia. Assim, dia 3 de julho de 1981 foi nomeado Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, função que exerceu até 1985. Ao nomeá-lo, o então Reitor Daniel Coelho de Souza depositou toda a confiança no médico cirurgião e documentalista para o exercício de uma função estratégica em direção ao cumprimento da missão tríplice da universidade. Decerto, um novo desafio no qual Clodoaldo Beckmann investiu competência, dedicação e seriedade.
A relação visceral e afetiva que Clodoaldo Beckmann manteve com a UFPA é também reconhecida por colegas do curso de Biblioteconomia, que revelam não apenas a nuança do profissional, mas, a pessoa que tinha no trabalho bem realizado um princípio de vida a ser seguido. Entre os do seu convívio no espaço laboral, importa citar a professora Maurila Bentes de Mello e Silva (FABIB/ICSA/UFPA)14, que conviveu profissionalmente com Clodoaldo Beckmann quando ele retornou à UFPA na condição de professor visitante nos anos de 1990. Colaboradora de trabalhos, Maurila Bentes o assistiu na produção do livro “Para a história da UFPA...”. Como observa a docente, Clodoaldo Beckmann pode ser definido como um profissional “apaixonadíssimo pelo Curso de Biblioteconomia”, o que era evidenciado pela presença assídua nas reuniões do Conselho desse curso.
Entre pessoas do convívio de Clodoaldo Beckmann no ambiente de trabalho, a imagem de um homem que gostava do que fazia é associada à de profissional exigente. É nesse sentido que ele aparece descrito como alguém de personalidade forte, muito respeitado pelos colegas de profissão e pelos alunos. O médico Jorge Ohana (2008) lembra-se do mestre, como o chamava respeitosamente, como uma pessoa marcante, algumas vezes ríspido nas palavras, mas tudo em aparência, pois, como rememora, Clodoaldo Beckmann era homem justo e fiel aos seus princípios, razão pela qual os defendia veementemente. Outro ex-aluno de Medicina, Cláudio Acatauassú, declara que Clodoaldo Beckmann:
“[...] era um pouco contestado por ser um irreverente muitas vezes [...] e você vai escutar isto de alguns porque ele, nessa retidão dele, ele não aceitava muito a impontualidade. Ele não aceitava atitudes que demonstrassem algum tipo de preguiça ou algum tipo de falta de vontade de fazer um trabalho. Ou seja, ele era muito perfeccionista no que fazia” 15.
No curso de Biblioteconomia em que esteve à frente, Clodoaldo Beckmann é lembrado também como chefe competente e de muitos rigores. Como observa Maurila Bentes:
“Beckmann era uma pessoa muito estudiosa, culta, emotiva e perfeccionista [...]. Como chefe era muito rigoroso e queria que suas ordens fossem respeitadas para que tudo saísse com perfeição. Ele passava a imagem de ‘durão’, mas era para que tudo fosse cumprido com perfeição, principalmente quando relacionado às pesquisas dele” 16.
O zelo de Clodoaldo Beckmann por esse curso de graduação pode ser entendido como uma forma manifesta de afeto, de cuidado com aquilo com que se importava. Das pessoas entrevistadas e ouvidas emergem vários relatos do esmero que ele exigia de docentes e discentes de Biblioteconomia, inclusive nos cuidados com a imagem pessoal e com os modos de ser e de se comportar. A professora especialista Kátia Luciene Martins17, por exemplo, lembra os conselhos de Clodoaldo Beckmann sobre a maneira como as bibliotecárias deveriam se apresentar no dia a dia para o trabalho, com trajes sempre discretos, elegantes e cabelos muito bem arrumados.
Ao que tudo indica, perfeição é uma palavra que encontra sentido no perfil de Clodoaldo Beckmann, talvez como uma virtude a ser buscada por ele, exigida inclusive dos que estavam em volta desse médico e documentalista, fosse na sala de aula ou nos espaços de atividades administrativas. O rigor no trabalho como gestor e como professor operava como um mecanismo importante nessa busca pela perfeição em tudo o que fazia e no que faziam para ele, razão pela qual executava as tarefas que precisavam ser realizadas sempre de modo metódico18. Todavia, na intimidade e nos momentos livres das responsabilidades do trabalho, Clodoaldo Beckmann é lembrado por amigos e por familiares como um homem espirituoso, de muitas brincadeiras, que provocava o riso fácil nas pessoas de seu convívio.
Secretária da Faculdade de Biblioteconomia da UFPA, Liana Magda Couceiro19 recorda de um professor exigente com o modo de vestir dos alunos. Do tempo de convívio com o biografado, ela lembra o quanto o incomodava a presença de alunos trajando bermuda nas instalações do curso. Aqueles que se vestiam desse modo sequer eram admitidos nas aulas ministradas por Clodoaldo Beckmann, assim como não eram tolerados os alunos do curso de Medicina que compareciam à universidade sem o jaleco20. Embora essas exigências soem rígidas e atualmente até pareçam desnecessárias às novas gerações de estudantes universitários, sobretudo nestes tempos de liberdades desmedidas, elas são elementos que indicam um homem preocupado com a futura imagem profissional de seus alunos de Medicina e de Biblioteconomia, razão pela qual Clodoaldo Beckmann reivindicava todo esse investimento no cuidado pessoal daqueles que conviviam com ele dentro e fora da UFPA.
Ao julgar pelas evidências colhidas sobre Clodoaldo Beckmann, tal postura pode ser interpretada como uma estratégia de autoproteção e de sobrevivência, desenvolvida a partir das experiências de uma infância marcada, entre outras coisas, pela perda dos pais e pela criação em condições materiais bastante frugais21. Não se quer falar aqui em trauma, mas, em superação, em impulso disciplinado para a mudança e para a transformação de sua condição social e cultural, o que só foi possível pelo caminho do estudo e do trabalho. Possivelmente uma vivência de restrições econômicas motivou Clodoaldo Beckmann a se tornar a pessoa que foi, isto é, comprometida, responsável, culta. O homem que se orgulhava da biblioteca que possuía, em especial porque tinha o prazer de ler todos os livros que colecionava22. Esse é, aliás, um aspecto importante da personalidade dele a ser considerado diante da qualidade textual e da fluência verbal dos discursos que pronunciou em ocasiões solenes. Enfim, uma pessoa que buscou na competência a chave para deixar a marca singular de seu trabalho como médico cirurgião, documentalista, gestor e professor.
A vida produtiva de Clodoaldo Beckmann no campo da Medicina e da Biblioteconomia só foi interrompida pelo carcinoma hepato regular contra o qual lutou até 7 de agosto de 2007, data de seu falecimento. A notícia foi comunicada às 21h01min no Portal da UFPA, sob o título “Pará perde Clodoaldo Beckmann” (UFPA, 2007). Em 30 de junho de 2009, realizando o desejo manifesto por ele em vida, o então Reitor Alex Fiúza de Mello, amigos e familiares reuniram-se em frente à Biblioteca Central e à Faculdade de Biblioteconomia para que as cinzas de Clodoaldo Beckmann pudessem descansar junto a uma muda de ipê (Tabebuia impetiginosa) (Monteiro, 2009). No mesmo local também foi assentado um banco de concreto com uma placa em que consta a célebre frase do médico/documentalista “... os que vierem depois de mim farão melhor do que eu”. O homem que foi aluno, docente e pró-reitor da UFPA escolheu exatamente o solo de sua “segunda casa” para ser o local de seu descanso eterno. Segundo pronunciamento de André Beckmann (2009), no dia da cerimônia, “[...] esta homenagem é uma celebração à vida, do que representou Clodoaldo. Estamos aqui assistindo a um desejo tornar-se realidade. Não é um funeral. Muito menos um adeus. Nunca é um “adeus” a Clodoaldo”, talvez porque para os que conhecem a história da Medicina e da Biblioteconomia no Pará, a passagem pelo monumento póstumo a caminho da Biblioteca Central e do Curso de Biblioteconomia represente sempre um (re)encontro com Clodoaldo Beckmann, sobretudo pelas memórias que afloram sobre a pessoa de origem humilde que estudou, formou-se, constitui família, venceu na vida e deixou seu legado para a sociedade. Certamente uma passagem que não foi em vão.
E para finalizar, há que se dizer que este exercício biográfico está longe de dar conta da totalidade da pessoa que foi e dos feitos de Clodoaldo Beckmann, seja no campo da Medicina, da Biblioteconomia ou da cultura, se é que é possível uma biografia narrar a contagem infinitesimal da vida de uma pessoa. É nessa direção que o método encontra seus limites, pois o que se pode reunir pela documentação, pelas conversas e pelas entrevistas com familiares, amigos e ex-alunos, o método permanece muito aquém do que possa ser traduzido em um artigo, relatório científico ou livro. O que dizer quando o sujeito da biografia já não se encontra em vida, impedido de falar de si mesmo e sobre o que considera significativo em suas experiências? É por essa razão que as biografias sempre apresentarão lacunas. Que elas estarão sempre incompletas uma vez que lidam com as forças incontroláveis do silêncio e do esquecimento.
De todo modo, em que pesem as omissões, as supressões e/ou as lacunas empíricas, por mais modestas que sejam, as pesquisas biográficas sempre registram e revelam fragmentos sobre a vida do sujeito biografado que merecem ser (re)conhecidos ou (re)lembrados por alguma razão, algo que no caso de Clodoaldo Beckmann se justifica pelas contribuições dele para a Medicina e para a Biblioteconomia. Assim, nessa última área em particular, espera-se que este estudo possa contribuir para o conhecimento de docentes, discentes e bibliotecários sobre quem foi e o que fez esse médico cirurgião e documentalista paraense. Que este estudo possa servir como mais um documento contra o esquecimento e como mais uma voz contra o silêncio sobre a vida e a obra de Clodoaldo Fernando Ribeiro Beckmann.
1 No Brasil, salvas algumas omissões, são conhecidos os seguintes trabalhos de valor biográfico: o trabalho de Boyd Rayward (1975), sobre Paul Otlet; a interessantíssima tese de doutorado de Nanci Oddone (2004) sobre a destacada paraense Lygia de Queiroz Sambaquy; o livro de Suelena Pinto Bandeira (2007), sobre Rubens Borba de Moraes; o trabalho biográfico produzido por Ana Santos e Valdenira Moreira (2011) sobre a vida da bibliotecária paraense Ruthe Chelala Condurú; e, o artigo de Murilo Bastos Cunha (2014) sobre Abner Vicentini. Como se vê, há muito por ser feito quanto ao resgate da memória daqueles que contribuíram e/ou que seguem contribuindo para a história da Biblioteconomia em terras brasileiras.
2 Informações fornecidas gentilmente pela filha de Clodoaldo Beckmann, Lucia Beckmann, enviadas via e-mail, em 24 de janeiro de 2013.
3 Segundo palavras do próprio Clodoaldo Beckmann (2000), a habilitação é o nome correto para o que hoje é denominado vestibular. Ver: Beckmann, Clodoaldo Fernando. 2000. Medicina e vida: lembranças de meio século. Belém. Disquete. Não publicado.
4 Beckmann, Clodoaldo F. R. 1991. Curriculum vitae.Belém.
5 Relato feito por dona Ceres Beckmann, em 2011. Na ocasião foi possível perceber a saudade que Clodoaldo Beckmann deixou na vida da esposa que prefere não entrar na biblioteca do marido para evitar certas emoções.
6 Informações fornecidas via e-mail por Lúcia Beckmann, em 24 de Janeiro de 2013.
7 Entrevista concedida em 24 de janeiro de 2013 pela professora do curso de Biblioteconomia, Maria Izabel Moreira Arruda, ex-aluna de Clodoaldo Beckmann.
8 De acordo com o acesso ao conteúdo do Processo n. 31.252/94 (Arquivo PROGEP), sobre a revalidação do contrato do professor visitante Clodoaldo Beckmann para, entre outras coisas, trabalhar na organização do Mestrado em Ciência da Informação. No mesmo documento consta a denominação “Mestrado em Biblioteconomia” (sic). Aliás, informações sobre esse curso stricto sensu são corroboradas pelo professor doutor Hamilton Vieira de Oliveira (FABIB/ICSA/UFPA), segundo o qual sem o trabalho de Clodoaldo Beckmann o mestrado interinstitucional em Ciência da Informação não teria se realizado. O docente lembra, ainda, que a professora Maurila Bentes fez viagens ao Rio de Janeiro para trabalhar na elaboração do projeto juntamente com a professora Lena Vânia. Foi assim que o Mestrado Interinstitucional em Ciência da Informação iniciou suas atividades em 1998 e as encerrou em 2000, com a defesa das dissertações. Esse mesmo curso teve como coordenadora operacional a professora doutora Maria Odaisa Espinheiro de Oliveira (FABIB/ICSA/UFPA). E muito embora Clodoaldo Beckmann tenha tido participação importante para a criação desse curso de pós-graduação, na passagem dele pelo curso de Biblioteconomia da UFPA importa registrar que o médico e documentalista organizou as duas primeiras versões do curso de especialização em Administração de Bibliotecas.
9 São eles(as): Jane Veiga Cezar da Cruz, Luiz Otávio Maciel da Silva, Maria Izabel Moreira Arruda, Maurila Bentes de Mello e Silva, Maria Raimunda de Sousa Sampaio e Telma Socorro Silva Sobrinho.
10 Chelala, Ruthe Condurú; Cunha, Alda das Mercês Moreira da e Galvão, Clara Maria. 1975. A Biblioteconomia no Pará. Belém: UFPA. Mimeo.
11 Chelala, Cunha e Galvão (1975) dizem que o curso de Biblioteconomia da UFPA foi o 12º criado no Brasil. Contudo, a partir da cronologia elaborada por Castro (2000) é possível identificar esse curso como sendo o 14º criado no país.
12 A primeira turma de Biblioteconomia da UFPA teve como concluintes: Alda das Mercês Moreira da Cunha; Daise Maria de Oliveira Nascimento; Heliana Maués Furtado; Ivany Sarmento Franco; Julieta Maria de Miranda Cunha; Léa Maria Monteiro Diniz; Leonor Maria Sampaio Façanha; Margarida Martins Velloso; Maria Celina de Aquino Maciel; Maria da Graça Lima Freitas; Maria Lúcia Pacheco de Almeida; Maria Tereza Alves da Silva; Oneide Ventura da Silva; Regina Ruth Pinto Mota; Ruthe Pinheiro Condurú; Saphyra Farias Leitão e Tereza de Jesus de Castro Lobato (Chelala; Cunha e Galvão, 1975).
13 Informações fornecidas por Edison Pereira, Secretário Geral do CEC, em 30 de novembro de 2011, com base nas atas institucionais.
14 Conversa informal realizada dia 19 de dezembro de 2011.
15 Entrevista concedida dia 10 de janeiro de 2013 pelo Dr. Claudio Acatauassú, ex-aluno de Medicina de Clodoaldo Beckmann na disciplina de Técnica cirúrgicas.
16 Entrevista realizada dia 8 de janeiro de 2013.
17 Conversa informal realizada dia 21 de janeiro de 2013.
18 Clodoaldo Beckmann gostava de escrever, o que fazia bem feito, tal como testemunha sua produção intelectual na Medicina e na Biblioteconomia. Na residência dele estavam sempre dispostos à mão lápis devidamente apontado, borracha e os cadernos que utilizava para fazer anotações, minutas e registrar insights. Nos cadernos ele trabalhava da seguinte maneira: no lado esquerdo fazia um esboço do texto, e, no lado direito, produzia o texto propriamente dito Informação obtida de conversa informal com Maurila Bentes de Mello e Silva e com Liana Magda Couceiro, em 22 de janeiro de 2013.
19 Conversa informal realizada dia 22 de janeiro de 2013.
20 Conversa informal realizada dia 30 de novembro de 2011.
21 As informações sobre o falecimento da mãe e a infância humilde foram fornecidas por Lucia Beckmann, via e-mail.
22 Em entrevista realizada dia 10 de janeiro de 2013, o Dr. Claudio Acatauassú, em seu consultório no Hospital Bettina Ferro de Souza, falou da visita que fez quando selecionado entre os cinco melhores alunos de Medicina para um jantar na casa de Clodoaldo Beckmann. Na ocasião ele foi apresentado à biblioteca do mestre, que declarava: “Muita gente tem livros em casa apenas para enfeitar estantes. Eu já li todos os que estão nesta biblioteca”.
Obrigado às pessoas e às instituições que colaboraram para a realização deste estudo, especialmente à família Beckmann.
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Cita recomendada:
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Recibido: 12 de diciembre de 2014.
Aceptado: 25 de septiembre de 2015.
Publicado: 21 de octubre de 2015.
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