PC Palabra Clave (La Plata), octubre 2024 - marzo 2025, vol. 14, núm. 1, e233. ISSN 1853-9912
Universidad Nacional de La Plata
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
Departamento de Bibliotecología

Artículos de temática libre

O processo representação da informação nas bibliotecas públicas estaduais: usos, sentidos e desafios no contexto brasileiro

Maurício José Morais Costa

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Bruno Fortes Luce

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Maria Cleide Rodrigues Bernardino

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal da Paraíba / Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia, Universidade Federal do Cariri, Brasil
Cita sugerida: Costa, M. J. M., Luce, B. F. y Bernardino, M. C. R. (2024). O processo representação da informação nas bibliotecas públicas estaduais: usos, sentidos e desafios no contexto brasileiro. Palabra Clave (La Plata), 14(1), e233. https://doi.org/10.24215/18539912e233

Resumo: Investigação que objetivou identificar os instrumentos de representação da informação e vocabulários controlados utilizados pelas bibliotecas públicas estaduais no Brasil, bem como o grau de conhecimento dos respondentes sobre tais. Método: Tratou-se de um estudo exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa, que fez uso de questionários mistos, subdividido em onze blocos de perguntas abertas e fechadas. A amostra real foi composta por 18 bibliotecas estaduais, cujo levantamento das instituições foi realizado no Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP). A análise dos resultados seguiu as diretrizes metodológicas da análise de conteúdo. Resultados: Os resultados evidenciaram uma padronização dos processos, não fazendo distinção de localidade. Explicita a predominância na utilização do Pergamum, do MARC21 e do Código de Catalogação Anglo Americano (AACR2), enquanto Classificação Decimal Universal (CDU) e Classificação Decimal de Dewey (CDD) apresentaram poucas menções. Os vocabulários controlados, também apresentaram uma baixa adesão nas respostas, sendo a Lista de Cabeçalhos de Assunto os instrumentos mais mencionados pelas instituições participantes da pesquisa. Conclusões: Constatou-se a persistência em dinâmicas de trabalhos manuais e ficando restrita ao profissional da informação, a exemplo o uso de tabelas de assunto internas, fichas catalográficas manuais, dentre outras. Concluiu-se advogando-se pelo fortalecimento de políticas que contribuam com a capacitação dos bibliotecários atuantes nas bibliotecas públicas estaduais, de modo que estes atualizem-se perante os instrumentos de representação da informação.

Palavras-chave: Representação da Informação, Bibliotecas públicas estaduais, Catalogação, Representação descritiva da informação, Brasil.

The process representation of information in state public libraries: uses, meanings and challenges in the Brazilian context

Abstract: This study aimed to identify the information representation instruments and controlled vocabularies used by state public libraries in Brazil, as well as the respondents' degree of knowledge about them. Method: this was an exploratory and descriptive study, with a qualitative approach, which made use of mixed questionnaires, subdivided into eleven blocks of open and closed questions. The actual sample consisted of 18 state libraries, whose survey of the institutions was carried out in the National System of Public Libraries (SNBP). The analysis of the results followed the methodological guidelines of content analysis. Results: the results showed a standardization of the processes, making no distinction of location. It shows the predominance in the use of Pergamum, MARC21 and the Anglo-American Cataloguing Code (AACR2), while Universal Decimal Classification (UDC) and Dewey Decimal Classification (DDC) presented few mentions. The controlled vocabularies also showed a low adherence in the answers, with the List of Subject Headings being the instruments most mentioned by the institutions participating in the research. Conclusions: it was found that there was persistence in the dynamics of manual work and being restricted to the information professional, such as the use of internal subject tables, manual cataloguing cards, among others. It was concluded by advocating for the strengthening of policies that contribute to the training of librarians working in state public libraries, so that they can update themselves in the face of the instruments of information representation.

Keywords: Information Representation, State public libraries, Cataloguing, Descriptive representation of information, Brazil.

El proceso de representación de la información en las bibliotecas públicas estatales: usos, significados y desafíos en el contexto brasileño

Resumen: Este estudio tuvo como objetivo identificar los instrumentos de representación de la información y los vocabularios controlados utilizados por las bibliotecas públicas estatales de Brasil, así como el grado de conocimiento de los encuestados sobre ellos. Método: se trata de un estudio exploratorio y descriptivo, con enfoque cualitativo, que hizo uso de cuestionarios mixtos, subdivididos en once bloques de preguntas abiertas y cerradas. La muestra real estuvo constituida por 18 bibliotecas estatales, cuyo relevamiento de las instituciones se realizó en el Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP). El análisis de los resultados siguió los lineamientos metodológicos del análisis de contenido. Resultados: los resultados mostraron una estandarización de los procesos, sin distinción de localización. Muestra el predominio en el uso de Pérgamo, MARC21 y el Código Angloamericano de Catalogación (AACR2), mientras que la Clasificación Decimal Universal (UDC) y la Clasificación Decimal Dewey (DDC) presentaron pocas menciones. Los vocabularios controlados también mostraron una baja adherencia en las respuestas, siendo la Lista de Encabezamientos Temáticos los instrumentos más mencionados por las instituciones participantes en la investigación. Conclusiones: se encontró que persistió en la dinámica del trabajo manual y restringido al profesional de la información, como el uso de tablas temáticas internas, fichas manuales de catalogación, entre otros. Se concluyó abogando por el fortalecimiento de políticas que contribuyan a la formación de los bibliotecarios que trabajan en las bibliotecas públicas estatales, para que puedan actualizarse frente a los instrumentos de representación de la información.

Palabras clave: Representación de la información, Bibliotecas públicas estatales, Catalogación, Representación descriptiva de la información, Brasil.

1. Introdução

O fazer bibliotecário envolve vários campos da gestão de seus espaços informacionais, desde o contato com o seu usuário (público), marketing, administração, gestão de pessoas, alocação de recursos, entre outros. Áreas estas que se correlacionam diretamente com a administração visto que este profissional não é somente “um guardador de livros”, como é visto em um estereótipo pejorativo da profissão. Atividades supervisionadas pelo próprio bibliotecário, que além das atribuições já citadas tem o papel central na organização da informação, sendo sua atribuição originária, tanto na organização dos espaços físicos, como em sistemas e principalmente na representação da informação, para sua recuperação.

Ao ter a informação como objeto de trabalho, a interdisciplinaridade expõe diferentes contextos de atuação para o bibliotecário, especialmente ao considerar as diversas formas de tratar, organizar e disseminar a informação com o uso de tecnologias mais modernas (Bezerra, Santos & Serafim, 2022). Independente do tipo de biblioteca que atue, o bibliotecário se vê diante da necessidade de possuir competências e habilidades que vão desde a mediação da informação até a função educativa em distintas esferas de conhecimento, ao passo em que as unidades de informação não se reduzem a instituições passivas, mas vetores de construção de conhecimento (Azevedo & Ogécime, 2020).

A biblioteca, devido ao trabalho do(a) bibliotecário(a), se torna um organismo vivo, onde o conhecimento circula através de seus usuários. Com um público diverso, a biblioteca pública atende às comunidades onde está inserida, não somente com empréstimos de livros, mas como um espaço de compartilhamento de conhecimento, lazer, oficinas, capacitação de pessoas entre outras práticas intersubjetivas. Logo, apresenta uma complexidade de atividades e um acervo que requer diferentes conhecimentos para que seus processos coadunem com seu papel social e assim efetive suas missões na sociedade (Miranda, Gallotti & Cecatto, 2017).

Ao considerar a velocidade com que os instrumentos de trabalho utilizados pelos profissionais da informação estão evoluindo, devido à modelagem da informação na realidade emergente, torna-se necessário realizar uma análise aprofundada das bibliotecas públicas estaduais brasileiras, a fim de compreender as peculiaridades e similaridades na representação das informações em cada um desses locais. Nesse sentido, este estudo intenta responder a seguinte problemática: qual é o grau de conhecimento dos profissionais, usos e sentidos sobre os instrumentos de representação da informação utilizados pelas bibliotecas públicas estaduais no Brasil?

Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo central identificar os instrumentos de representação da informação utilizados pelas bibliotecas públicas estaduais no Brasil, bem como o grau de conhecimento dos respondentes sobre tais. Dessa forma, o estudo tem por objetivos específicos: a) investigar as ferramentas e instrumentos utilizados na representação da informação em bibliotecas públicas brasileiras, com foco nos aspectos descritivos e temáticos; b) contextualizar os aspectos conceituais das bibliotecas públicas, incluindo seu papel na sociedade, suas características e suas funções; e, c) analisar o processo de representação da informação em bibliotecas públicas estaduais brasileiras, abordando tanto os aspectos descritivos quanto os temáticos.

A realização deste estudo centrou-se na necessidade de compreender a dinâmica dos processos de representação da informação nas bibliotecas públicas estaduais brasileiras, as quais dependem de recursos públicos e carecem de profissionais para a realização desse tipo de atividade. Para tanto, identificar os instrumentos utilizados e o nível de conhecimento dos profissionais é fundamental para avaliar a eficácia dessas práticas e sugerir aprimoramentos, no sentido de contribuir com o acesso à informação por diferentes comunidades. Ao investigar os aspectos descritivos e temáticos da representação, o estudo oferecerá informações que poderão ser utilizadas na implementação de melhoria dos serviços oferecidos pelas bibliotecas, promovendo uma organização mais eficiente da informação e, por conseguinte, uma melhor resposta às necessidades da comunidade usuária.

2. Representa da informação: aspectos descritivos e temáticos

A sociedade está envolta a múltiplos processos comunicativos, cujas linguagens refletem em diferentes interações, reconhecimentos e classificações. É notório que a representação sempre fez parte da vida das pessoas, bem como dos processos de formação social e cultural, conforme destacado por Albuquerque, Gaudêncio & Santos (2019).

A representação da informação é um dos pilares da prática bibliotecária, tendo como sua principal função a recuperação da informação, para atender às demandas de seus usuários. Para isso, é necessário um processo completo que envolve desde o tratamento do objeto até a catalogação, classificação e indexação, visando garantir a efetiva recuperação tanto para o usuário quanto para o próprio profissional, especialmente em um cenário marcado pelo aumento progressivo da produção documental (Santos & Silva, 2020).

Entende-se a representação da informação como “[...] um conjunto de elementos descritivos que representam os atributos de um objeto informacional específico [...]” (Brascher & Café, 2008, p. 5). O processo de representação está incumbido de sanar necessidades informacionais, por sua vez expressas por expressões de consulta, visando obter respostas para as pessoas usuárias dos serviços de informação, ou seja, a representação precisa favorecer a recuperação da informação, a qual será posteriormente utilizada para um determinado fim (Alves, 2009). Segundo Novellino (1996, p. 37), “A principal característica do processo de representação da informação é a substituição de uma entidade linguística longa e complexa - o texto do documento - por sua descrição abreviada”.

A representação da informação é determinante para a Organização do informação, a qual tem sua realização voltada para a promoção do acesso ao conhecimento para posteriores usos, bem como reelaborações em prol de públicos específicos, como bem explica Ortega (2013). Silva & Amorim (2022) complementam, pontuando que por estar relacionada de forma intrínseca à organização da informação, a etapa de representação da informação se divide em duas categorias, a descritiva e a temática.

De acordo com Maimone, Silveira & Tálamo (2011), a representação descritiva pode ser denominada como bibliográfica e também serve para a padronização de pontos de acesso, a união de materiais semelhantes, facilitando assim a busca. Enquanto isso, a representação temática se concentra no assunto do documento. Pereira (2017, p. 147), complementa, destacando que “Um instrumento de representação documental tem como objetivo fornecer as representações do recurso informacional (em sua estrutura física ou de conteúdo) que estiver a ser representado”. Maimone, Silveira & Tálamo (2011), por fim, enfatizam que a representação temática facilita a recuperação de documentos com temas semelhantes.

Adicionalmente, destaca-se que a catalogação é o processo de representação padronizada de um item documentário que visa ampliar as formas de acesso ao documento, facilitando a localização de informações (Garrido Arilla, 1999). Le Coadic (2004, p. 64) explica que a “catalogação é um método tradicional que consiste em escolher as palavras que servirão de entradas no catálogo descrevendo a origem do documento: nomes de autores, editores, lugar, data, língua de publicação, título do documento”. Além disso, a catalogação é a linguagem de descrição bibliográfica que resulta no catálogo, sendo essencial para a comunicação eficaz e funcionando como um instrumento de recuperação que permite ao usuário encontrar, identificar, selecionar e obter um documento ou recurso (Barbosa, 1978; Catarino & Souza, 2012).

Diante disso, desvela-se, com base em Albuquerque, Gaudêncio & Santos (2019), a diversidade de maneiras pelas quais a representação da informação possibilita a produção de sentidos, significações e ressignificações perante o documento, isto considerando o objetivo e as demandas com as quais o profissional da informação se depara. Cabe pontuar que para o profissional da informação alcançar os objetivos do processo de busca, recuperação e uso da informação, este utiliza determinados instrumentos.

O processo de representação e recuperação da informação é operacionalizado mediante o emprego de diferentes instrumentos e linguagens, as quais assumem os significados das marcas institucionais e incidem sobre a prática dos indivíduos responsáveis por seu emprego, notadamente o profissional da informação (Silva, Aquino & Albuquerque, 2013).

Nesse sentido, sabe-se que os instrumentos de representação da informação fazem parte da rotina do bibliotecário, Pereira (2017) faz uma analogia com o bisturi do cirurgião e os instrumentos de representação do bibliotecário, ferramentas indispensáveis para execução de suas atribuições. A representação dos documentos e materiais informacionais é fundamental para a satisfação do usuário, pois está relacionada à interatividade dele com os sistemas de informação e, consequentemente, à capacidade do sistema de se comunicar com ele. Para exemplificar, a autora apresenta um quadro com os principais instrumentos,1 dentre eles estão: a) Código de Classificação Decimal de Dewey (CDD); b) Código de Classificação Decimal Universal (CDU); c) Classificação Expansiva de Cutter – Tabela Cutter-Sanborn; d) Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR 2); e) Machine-Readable Cataloguing (MARC21); f) Resource Description and Access (RDA), entre outros (Pereira, 2017).

A representação temática, por sua vez, contempla o processo de classificação, que segundo Piedade (1977, p. 9), consiste em “dividir em grupos ou classes, segundo as diferenças e semelhanças. É dispor os conceitos, segundo suas semelhanças e diferenças, em certo número de grupos metodicamente distribuídos”. Compreende em um processo sistemático de organizar o conhecimento em grupos ou classes com base em suas semelhanças e diferenças. Essa organização facilita o acesso e a recuperação de informações em espaços informacionais, como bibliotecas, arquivos e museus. A fim de padronizar uma linguagem e promover a interoperabilidade entre sistemas diferentes.

2.1 Ferramentas e instrumentos que representam a informação enquanto produtos

Nesta seção, são ressaltadas as ferramentas e instrumentos que desempenham um papel fundamental na representação da informação como produtos. De acordo com Dodebei (2002), instrumentos como listas de cabeçalhos de assunto, tesauros e ontologias auxiliam na catalogação final do documento, destacando seus principais atributos para garantir sua recuperação eficiente. Portanto, tais instrumentos são indispensáveis em qualquer tipo de biblioteca, seja ela especializada, escolar, universitária ou pública, fornecendo suporte essencial para o trabalho do profissional bibliotecário.

Sabe-se que a adoção dessas teorias e técnicas oriundas da Organização e Representação da Informação permite tanto a constituição de um domínio quanto a modelagem estruturada de um Sistema de Recuperação da Informação, o qual no contexto das bibliotecas públicas deve ser eficiente e eficaz, isto considerando o arranjo matizado de usuários dessas instituições (Lima, 2020; Lourenço, 2020). Nesse sentido, chama-se atenção para os seguintes instrumentos de representação da informação enquanto produtos, a saber:

  • Tesauros - Conforme Tristão, Fachin & Alarcon (2004), Sales & Café (2009), o tesauro é um instrumento de indexação, que desempenha a representação dos conceitos e termos relacionados a um determinado campo ou área de conhecimento. Segundo Sales & Café (2009, p. 102) explicam, ainda, que os “Tesauros são vocabulários controlados formados por termos descritores semanticamente relacionados, e atuam como instrumentos de controle terminológico”. Trata-se de uma lista de termos organizados a partir de conceitos. O tesauro inclui termos gerais e seus relacionamentos com termos mais específicos que representam conceitos mais detalhados (Tristão, Fachin & Alarcon, 2004).

  • Taxonomias - Araújo e Pinto (2019) apontam o surgimento da taxonomia como um processo natural e necessário, visto que a humanidade sempre necessitou de classificar o mundo ao seu redor. Nesse contexto, as autoras definem taxonomia como: “[...] qualificar coisas e objetos do mundo conforme as semelhanças de suas características. Esse atributo de classificação tem aproximação direta com as linguagens documentárias e, portanto, com a Biblioteconomia e a Ciência da Informação [...]” (Araújo & Pinto, 2019, p. 36).

  • Ontologias - as ontologias servem como um modelo conceitual para ajudar na organização e interpretações de informações de maneira estruturada e significativa, em um contexto. Diferenciando da área da Ciência da Computação, e trazendo conceitos voltados para a Ciência da Informação, “A Ontologia é um modelo de representação do conhecimento, por vezes empregado como linguagem documentária, que, a exemplo do tesauro, é utilizada para representar e recuperar informações por meio de estruturas conceituais” (Sales & Café, 2009, p. 101). Schiessl (2007) atribui às ontologias a função de fornecer definições aos vocabulários usados para representar um determinado conhecimento.

Em suma, tesauros, taxonomias e ontologias são ferramentas relevantes na organização e acesso à informação em diversos campos, especialmente na Biblioteconomia e Ciência da Informação. Enquanto os tesauros proporcionam controle terminológico, as taxonomias classificam objetos com base em suas características semelhantes, e as ontologias oferecem modelos conceituais para interpretar informações de forma estruturada, ampliando a compreensão e a acessibilidade do conhecimento. Na seção seguinte são descritas tecnologias, diretrizes e modelos aplicados na representação da informação.

2.2 Tecnologias, diretrizes e modelos na representação da informação

Entende-se que as ações que permeiam o processo de catalogação têm se transformado ao passo que a atividade catalográfica deve ser pensada e realizada de forma produtiva e inovadora, como bem pontua Modesto (2021). Concorda-se com Bonetti e Arakaki (2021), quando afirmam que se deve alinhar os princípios de catalogação para as necessidades emergentes dos usuários, centradas em sua maioria na Web. Sobre isso, Cerrao & Castro (2021, p. 98) ressaltam que:

Diante do avanço tecnológico e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) disponíveis, identificam-se algumas tendências no domínio bibliográfico, especialmente no que se refere ao Tratamento Descritivo da Informação (TTI), onde o Resource Description and Access (RDA) e o Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR) têm sido discutidos tanto na vertente teórica, quanto na esfera de aplicação em ambientes digitais.

O avanço proporcionado pelas tecnologias digitais amplia os recursos que podem ser adotados para o tratamento da informação e sua posterior recuperação, além dos instrumentos já consolidados, dentre eles o Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2R), International Standard Bibliographic Description (ISBD), as ferramentas de classificação, bem como os cabeçalhos de assunto, além dos padrões de metadados já estabelecidos MARC, Dublin Core, dentre outros (Lourenço, 2020; Modesto, 2021). Lourenço (2020, p. 153) explica esse contexto, reforçando que “A catalogação está em um momento crucial, onde mudanças e modernizações têm sido estudadas e desenvolvidas com o intuito de consolidá-la neste novo século e adequá-la às práticas da web semântica e do Link Data”.

No cenário das bibliotecas, os modelos supracitados, aliados à forma de catalogar e conceber os catálogos para a Web Semântica e sua interoperabilidade, ampliam tanto as possibilidades de recuperação e uso da informação quanto os desafios para os profissionais que terão que implementar tais instrumentos em suas instituições (Bonetti & Arakaki, 2021).

Apontado como o possível substituto do AACR2, a Resource Description and Access (RDA) foi construída com o intuito de atualizar as diretrizes de catalogação e baseia-se no modelo FRBR, ou seja, “[...] identifica as entidades no universo bibliográfico de interesse do usuário (obras, itens, pessoas etc.), os atributos dessas entidades e suas relações entre si” (Cerrao & Castro, 2020, p. 4). Desse modo, a RDA tem seu planejamento, modelagem e construção pensada para atender às demandas da Web e as exigências dos usuários de forma mais próxima às linguagens utilizadas nesse processo (Bonetti & Arakaki, 2021; Cerrao & Castro, 2020), tendo em vista que “[...] seu objetivo é facilitar o processo de descrição de recursos seguindo um processo de decisão lógica” (Cerrao & Castro, 2021, p. 98).

Já o Bibliographic Framework (BIBFRAME) é um projeto da Library of Congress (LC) e, por sua vez, é tratado como um potencial sucessor o MARC21. Leandro & Arakaki (2021) explicam que se trata de um padrão flexível, dotado de uma arquitetura capaz de expressar e conectar informações e pode ser utilizado por diferentes instituições, não limitando-se às bibliotecas. Igualmente à RDA, o BIBFRAME filia-se às propostas do FRBR e Functional Requirements for Subject Authority Data (FRSAD), visto sua estrutura ser fragmentada, cujo resultado é uma catalogação alicerçada em dados conectados e não em registros únicos como ocorre no MARC21.

Wells (2021) pontua que o uso criterioso de instrumentos analíticos e que apoiam o processo de representação da informação, cujo propósito consiste em desvelar tanto os mecanismos de pesquisa quanto de classificação de relevância dos resultados, permitirá que a experiência de descoberta seja cada vez mais personalizada de acordo com os interesses, propósitos e antecedentes de usuários individuais das bibliotecas, contexto vivenciado nas bibliotecas públicas em que o perfil dos usuários é bem matizado.

Nessa esteira, reforça-se que ao colocar a lente das bibliotecas públicas para discutir os instrumentos de representação da informação e organização do conhecimento, desvela-se o papel deste na missão daquelas instituições, que dentre outras missões tem a garantia do acesso a informações e ideias sem quaisquer barreiras. Logo, faz-se necessário revisitar os múltiplos entendimentos acerca das bibliotecas públicas, os quais serão abordados na seção seguinte.

3. Aspectos conceituais sobre as bibliotecas públicas

A biblioteca pública está em constante processo de transformação, tornando-se, cada vez mais, uma instituição mais acolhedora para os indivíduos que utilizam de seus produtos e serviços, sobretudo aqueles que estão em seus arredores, pois são catalisadoras para o desenvolvimento da comunidade. O aumento na informação em formato digital não se opõe à biblioteca, pelo contrário, a biblioteca pública incorpora também coleções digitais, justamente por valorizar as características locais e regionais em suas práticas (Cianconi & Almeida, 2021).

A biblioteca pública é um espaço democrático que tem como objetivo atender de maneira igualitária os usuários da região onde está inserida. Segundo Manifesto da Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA) sobre bibliotecas públicas: “A biblioteca pública é o centro local de informação, disponibilizando prontamente para os usuários todo tipo de conhecimento. Os serviços fornecidos pela biblioteca pública baseiam-se na igualdade de acesso para todos [...]” (IFLA, 1994, p. 2). O Ministério do Turismo brasileiro, considerando que, na época, o SNBP estava vinculado à Secretaria de Cultura do referido órgão, destacou em sua página oficial o objetivo principal de uma biblioteca é: “[...] atender por meio do seu acervo e de seus serviços os diferentes interesses de leitura e informação da comunidade em que está localizada, colaborando para ampliar o acesso à informação, à leitura e ao livro, de forma gratuita” (Brasil, 2022, p. 1).

A questão de servir a um propósito social está presente no entorno e nos objetivos das bibliotecas públicas, e sua estruturação ocorre por essas trocas entre espaço e usuários. Brettas (2010) pontua que a trajetória de uma biblioteca pública se efetiva por meio de um processo sociocultural entre as partes. Ao vermos em um contexto nacional a missão das bibliotecas públicas tem um papel ainda maior enquanto espaço informacional, visto que somos de um país em ‘eterno’ desenvolvimento. Miranda (1978, p. 75) apresenta seis objetivos da biblioteca pública brasileira para uma integração nacional:

1) A promoção da língua nacional e publicação, 2) prestação de publicações governamentais de informar os cidadãos sobre os programas que os afetam diretamente, inclusive para o Desenvolvimento Nacional; 3) fornecimento de livros e outros materiais para os estudantes em geral e para a questão de auto-educação, 4) a colaboração com as campanhas de alfabetização e fornecimento de materiais adequados para os novos leitores, 5) de cobrança de todos os materiais sobre a história e a cultura locais; 6) fornecimento de informações técnicas e comerciais para as empresas e as pessoas pedindo, inclusive lazer e turismo na região.

Os objetivos apresentados por Miranda (1978), podem parecer limitantes em questão de execução para os serviços ofertados dentro do espaço, mas eles refletem uma parte da vasta gama de ações desenvolvidas por esses lugares. Corroborando com os pensamentos de Brettas (2010) e a definição da IFLA, e complementando as ações desenvolvidas por Miranda (1978), Bernardino (2022) apresenta uma definição para o contexto atual de biblioteca pública:

[...] como espaço voltado para a socialização da informação a sua comunidade usuária, por meio de múltiplos suportes, pauta o entendimento de instituição cuja missão é criar possibilidades de interação da sua comunidade com o espaço, que possa inclusive, modificá-lo, participar de sua gestão e integrar o catálogo de produtos e serviços. Esse é um conceito moderno de biblioteca, que vai além do acervo e dos projetos de leitura, muito comum nessas instituições (Bernardino, 2022, p. 57).

Reconhece-se que a biblioteca pública é um espaço de trocas entre pessoas, não se limitando somente a livros, mas ações que possam ser desenvolvidas pela e para a comunidade. Essa perspectiva vai ao encontro do que dizem Shin, Jeon & Lee (2022), que pontuam que as bibliotecas públicas se integram como plataformas de conhecimento que respondam eficazmente às necessidades dos cidadãos por espaços de informação e de atividade cultural.

Afirma-se que as bibliotecas públicas são territórios comunitários de conhecimento e informação que estimulam o compartilhamento de espaços e o encontro de sujeitos sociais, onde ocorrem interações, comunicação e práticas intersubjetivas, bem como o empoderamento social, a troca e a solidariedade entre os indivíduos. Defende-se que as bibliotecas públicas, apesar dos desafios infraestruturais, recebam investimentos para ampliar suas ações e se envolvam em projetos, a fim de se tornarem espaços de fruição complexos e centrados nos usuários.

Enquanto organismos públicos, muitas vezes vinculados ao Estado, para atender a essas demandas sociais, no Brasil, existem diferentes gestões para cada biblioteca pública: estaduais, municipais, distritais e federais (Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, 2022). Cada uma possui características distintas e, principalmente, verbas para o desenvolvimento de suas ações sociais, atendendo públicos específicos em diferentes localidades. Portanto, essas instituições devem identificar demandas e expectativas de serviços, analisando as mudanças nas necessidades da comunidade e nos padrões de uso dos usuários.

4. Percurso metodológico

Do ponto de vista metodológico, este estudo é de caráter exploratório e descritivo, ao passo em que busca tanto identificar os instrumentos utilizados no processo de representação da informação nas bibliotecas públicas estaduais brasileiras quanto descrever a percepção dos profissionais responsáveis por elas quanto à essas práticas (Hernández Sampieri, Collado & Lucio, 2013).

Quanto a abordagem do problema, se trata de uma pesquisa qualitativa, ao passo em que se busca identificar os instrumentos utilizados, a avaliação do grau de conhecimento por parte dos profissionais atuante nas bibliotecas públicas participantes da pesquisa e suas interfaces contextuais (Prodanov & Freitas, 2013).

No tocante aos procedimentos técnicos, a pesquisa fez uso de questionários mistos, subdividido em onze blocos de perguntas abertas e fechadas. A plataforma utilizada para a construção e recolha das informações foi o Google Formulários, mecanismo que viabilizou uma maior abrangência e facilidade quanto ao envio e disponibilização dos instrumentos em nível nacional para ser respondido.

Inicialmente, buscou-se identificar os estados e regiões do Brasil dos participantes da pesquisa, na perspectiva de compreender a realidade regional, social e econômica das instituições. Optou-se por trabalhar com as unidades vinculadas aos governos estaduais em virtude da possibilidade de acesso às informações publicizadas, bem como para a viabilidade da pesquisa. Para tanto, as instituições foram selecionadas via portal do SNBP, o qual disponibiliza os nomes e os e-mails institucionais de cada biblioteca.

A pesquisa foi realizada entre o segundo semestre do ano de 2022 e início de 2023, portanto a coleta dos dados aconteceu entre os dias 27 de outubro de 2022 e o dia 15 de janeiro de 2023. Trabalhou-se com um universo amostral composto por 46 (quarenta e seis) bibliotecas públicas estaduais. No entanto, devido ao baixo retorno, foi adotada a busca das instituições nas redes sociais, como Instagram e Facebook, além do contato com as Secretarias Estaduais de Cultura e Educação, na perspectiva de ampliar o número de participantes. Com essa estratégia, obteve-se a amostra real, composta por 14 (quatorze) bibliotecas estaduais e 18 (dezoito) profissionais participantes que responderam aos questionários,2 cuja distribuição pode ser observada no Quadro 1, a seguir:

Quadro 1.
Bibliotecas públicas estaduais participantes da pesquisa
REGIÃO DO PAÍSBIBLIOTECAS PÚBLICAS ESTADUAIS
Centro-Oeste2 bibliotecas
Nordeste5 bibliotecas
Norte3 bibliotecas
Sudeste4 bibliotecas
Sul4 bibliotecas
Fonte: Dados da pesquisa (2023).

Participaram deste estudo 14 instituições, das quais foram obtidas mais de uma resposta em determinados casos, a saber: 1 Biblioteca Pública da Região Centro-Oeste (2 respostas), 1 Biblioteca Pública da Região Nordeste (2 respostas), 1 Biblioteca Pública da Região Sudeste (3), totalizando, assim, 18 respondentes. Tendo em vista o intuito de conhecer o cenário dos instrumentos de representação utilizados e o grau de conhecimento sobre eles, optou-se por manter as respostas extras obtidas, reforçando o caráter qualitativo deste estudo. Destacam-se as regiões Nordeste e Sul com 4 bibliotecas, região Norte com 3 bibliotecas, região Sudeste com 2 bibliotecas e região Centro-Oeste com 1 biblioteca. Esse número de participação representa cerca de 39% do universo de bibliotecas registradas na plataforma SBNP.

O questionário (anexo 1) foi composto por 10 seções,3 contendo 16 perguntas, foi destinado aos profissionais atuantes no processo de catalogação, porém foi observada a participação de gestores que possivelmente realizam esse trabalho, mostrando-se como um dos desafios postos à essas instituições, cujo primeiro contato ocorreu por e-mail encaminhado pelos pesquisadores.

Em termos de representação, a região Sul apresentou um representante de cada estado, seguido da região Nordeste com representantes de quatro estados, a região Norte com três estados, a região Sudeste com dois estados e a região Centro-oeste com apenas um estado. Cabe pontuar a preservação das informações dos respondentes, prezando-se pelos aspectos éticos da pesquisa, de modo que o primeiro item do instrumento apresentou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), para anuência e concordância do participante do estudo.

Os dados foram tratados mediante o uso do software de planilhas eletrônicas Excel, o qual permitiu a categorização das informações, bem como a geração de indicadores, mediante a tabulação dos resultados. A análise dos resultados seguiu as diretrizes metodológicas da Análise de Conteúdo, para tanto foram estabelecidos critérios para tal categorização, considerando o que orienta Bardin (2016), os critérios de categorização foram os semânticos (categorias temáticas) e léxicos (classificação das palavras segundo seu sentido, com emparelhamento dos sinônimos e dos sentidos próximos).

Para tanto, as categorias de análise foram definidas com base no referencial teórico em que está amparado o estudo, bem como nas variáveis presentes no instrumento de coleta de dados, cuja organização das unidades de registro (Bardin, 2016) pode ser observada no Quadro 2, a seguir:

Quadro 2.
Categorias de análise
EXERCÍCIO PROFISSIONALGRAU DE CONHECIMENTOREPRESENTAÇÃO TEMÁTICAREPRESENTAÇÃO DESCRITIVATECNOLOGIAS E MODELOS CONCEITUAIS
CargoVocabulários controladosClassificação Decimal de Dewey (CDD)CatalogaçãoRDA
FunçãoTesaurosClassificação Decimal Universal (CDU)CatálogoISBD
Tempo de atuaçãoTaxonomiasTabela de CutterAACR2FRSAD
Região do BrasilOntologiasNível de descrição (Exaustivo, Avançado, Intermediário, Básico)FRBR
Cabeçalhos de assuntoPadrão de metadados (MARC21, Dublin Core)BIBFRAME
Fonte: elaborado pelos autores com base no referencial teórico e dados da pesquisa.

Sendo assim, as unidades de registro, subcategorias de análise apresentadas no Quadro 2, segundo a autora, é “[...] unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdo considerado base [...]” (Bardin, 2016, p. 134). Posto isto, as unidades de contexto são insumos provenientes das fontes que favorecem a compreensão de tais unidades de registro ancoradas em frases e parágrafos provenientes dos questionários enviados às bibliotecas públicas estaduais e, por conseguinte, instrumentos de produção dos dados analisados neste estudo. Isto posto, na próxima seção serão apresentados os resultados obtidos através dos questionários respondidos pelos profissionais que atuam em bibliotecas, bem como as análises destes.

5. A representação da informação em bibliotecas públicas brasileiras: resultados e discussões

As bibliotecas públicas são instituições complexas e que, a depender da região do país, apresentam características estruturais, produtos e serviços distintos, os quais “[...] são prestados com base na igualdade de acesso para todos, independentemente de idade, etnia, sexo, religião, nacionalidade, idioma, condição social e qualquer outra característica” (IFLA, 2022, p. 2). Cabe reforçar o propósito deste estudo em identificar os instrumentos de representação da informação e vocabulários controlados utilizados pelas bibliotecas públicas estaduais no Brasil, na perspectiva de compreender como essas instituições têm tratado a informação e, consequentemente, favorecido o acesso a ela, considerando as peculiaridades de cada localidade.

Inicia-se a apresentação dos resultados com a identificação do cargo dos participantes da pesquisa, tendo em vista a necessidade de conhecer os indivíduos potencialmente responsáveis pelo processo de representação da informação nas bibliotecas públicas objeto da pesquisa, cujos resultados podem ser vistos no Gráfico 1, a seguir:

Gráfico 1.
Cargo/função exercida declarada
Cargo/função exercida declarada
Fonte: dados da pesquisa (2023).

Conforme expresso no Gráfico 1, a maioria declarou ser bibliotecário(a), seguido dos que afirmaram ocupar a função de coordenador, diretor ou gerente da instituição, e um participante informou ser chefe de seção. Esse resultado corrobora o cenário de gestão das bibliotecas públicas brasileiras, embora predomine profissional de Biblioteconomia, há um número expressivo de instituições geridas por profissionais de outros campos, visto se tratar de cargos de confiança, indicados a cada novo governo. Pontua-se que essa vinculação coloca uma série de desafios às bibliotecas públicas, os quais esses profissionais enfrentam, tais como orçamentos reduzidos, dependência das secretarias de estado, anseios do governo em situação, embora elas não devam “[...] ser pensadas de forma hierarquizada, centralizadora e tecnicista, descolada da realidade de sua comunidade” (Silva & Silva, 2021, p. 3).

Quanto a formação dos respondentes representantes das instituições participantes da pesquisa, foi constatado que a maioria, 14 (quatorze) possuem formação em biblioteconomia. Um participante informou ter formação em letras, Bacharelado em Direito, Especialização em Gestão Pública e Docência, Mestranda em Ciências da Educação. Porém, dois que responderam que tinham pós-graduação, não informaram sua área de graduação e nem sua pós-graduação; um respondeu que tem ensino superior e não informou em qual área e um respondeu com o nome da instituição em que obteve sua graduação, mas não informou qual curso fez, impossibilitando aferir que tenham cursado biblioteconomia. Também foi questionado acerca do tempo de atuação na biblioteca a distribuição dos resultados pode ser observada no Gráfico 2, a seguir:

Gráfico 2.
Tempo de atuação na instituição
Tempo de atuação na instituição
Fonte: dados da pesquisa (2023).

Ao analisar o tempo de atuação dos profissionais nas bibliotecas públicas, observa-se que a maioria exerce suas atividades entre 01 e 08 anos (47%), seguido daqueles que trabalham entre 12 e 17 anos (35%), enquanto os que estão inseridos de 20 a 37 anos totalizam cerca de 18% do total. O tempo de atuação na biblioteca pública representa tanto o grau de conhecimento do acervo quanto dos instrumentos e ferramentas utilizadas para o seu gerenciamento e domínio dos processos técnicos. Esse domínio também se reflete nos níveis de descrição do documento e no grau de familiaridade do público frequentador, ao passo que a bagagem do profissional impacta na forma como o material informacional é descrito e nos vocabulários utilizados.

Essas variáveis, como bem apontado por Tolare & Fujita (2021, p. 3), “[...] influenciam diretamente nesse processo como o próprio indexador, no qual a sua experiência de vida, opiniões e experiência com o trabalho (ou a falta dela) serão fator decisivo no trabalho”. No contexto das bibliotecas públicas o processo de representação da informação incide na responsabilidade social da instituição, visto que o acesso à informação de forma plena, igualitária, acessível e equitativa, a descrição dos materiais informacionais deve contribuir para isso e o profissional responsável por essa tradução deve apresentar competências específicas para essa atuação. Nesse sentido, é pertinente afirmar que o papel social da biblioteca pública não se resume aos catálogos e mecanismos de recuperação da informação, embora estes sejam cruciais para a recuperação da informação que impacta no crescimento e enriquecimento da sociedade, tal como se espera quando o item documental é incorporado para circulação, pensamento corroborado por Ferreira & Siebra (2021).

Diante da complexidade da informação no contexto emergente e do aumento do grau de precisão que marca o processo de representação perante os sistemas, dá-se prosseguimento buscando identificar o grau de conhecimento sobre os instrumentos de representação da informação, tendo em vista que a qualidade do processo de descrição se relaciona com tal enfoque. Para tanto, foi utilizada uma escala que varia de ‘Conheço muito’ a ‘Não conheço’, cuja distribuição dos resultados pode ser observada no Gráfico 3 e Gráfico 4, a seguir:

Gráfico 3.
Grau de conhecimento sobre vocabulários controlados e tesauros
Grau de conhecimento sobre vocabulários controlados e tesauros
Fonte: dados da pesquisa (2023).

A primeira pergunta foi sobre o conhecimento de Vocabulário Controlado de forma genérica, observa-se que a maioria afirmou que conhece o referido instrumento, enquanto os demais afirmaram conhecer de forma razoável ou pouca, tal como exposto no Gráfico 3. Esse cenário persiste no tocante aos tesauros, cabeçalhos de assunto e MARC 21, conforme explicitado no Gráfico 4. Cabe realçar que poucos profissionais possuem conhecimento elevado sobre os instrumentos destacados, isso demostra que as bibliotecas públicas estaduais necessitam de formação para reconhecimento dos demais instrumentos por parte de seus profissionais, além de reforçar que na realidade brasileira ainda é pouco adotado recursos como RDA, dentre outras linguagens de marcação, sobretudo no contexto das unidades de informação alvo deste estudo, cenário reforçado no estudo de Santos & Arakaki (2022), ao desvelarem a realidade de aplicação do RDA em instituições latino-americanas.

Gráfico 4.
Grau de conhecimento sobre cabeçalhos de assunto e MARC 21
Grau de conhecimento sobre cabeçalhos de assunto e MARC 21
Fonte: dados da pesquisa (2023).

O estudo tem sua continuidade visando conhecer melhor o processo de catalogação de cada instituição e o nível de conhecimento de cada profissional quanto aos procedimentos. Nesse sentido, sabendo-se da importância dos padrões de metadados para a interoperabilidade dos objetos descritos, orientação dos vocabulários controlados e esquemas de marcação e a cooperação entre instituições (Formenton, Castro, Gracioso & Furnival 2017), a primeira pergunta do bloco foi: “Qual o padrão de metadados utilizado no sistema de catalogação?”.

Embora se trate de uma questão subjetiva que possibilita respostas variadas, foram obtidas 14 respostas, as quais denotaram demasiado desconhecimento em relação a metadados para catalogação por parte dos participantes. Quanto aos padrões adotados: 3 (três) informaram o MARC21; 2 (duas) indicaram o MARC21 e o AACR2; 2 (duas) apontaram o uso do AACR2, Tabela de Cutter e CDU; e, 1 (uma) acentuou o uso do Dublin Core. Porém, foram observadas respostas que reforçaram esse desalinhamento quanto ao entendimento adequado do que vem a ser padrões de metadados, tais como: ‘Parcialmente não estruturado’ (Participante D, 2023), ‘Pergamum’ (Participante G, 2023) sendo ele um software, ‘Descritivos e administrativos’ (Participante O, 2023), ‘ainda em processo’ (Participante L, 2023). Um participante respondeu que utiliza a catalogação manual: ‘É utilizada a catalogação manual’ (Participante K, 2023).

Esse arranjo de resultados conduz a reflexão da atividade de catalogação, a qual é inerente ao profissional bibliotecário, que por sua vez exige um conjunto de conhecimentos técnicos e teóricos essenciais para sua plena execução, como bem reforça Hübner (2021). De igual modo, espera-se do catalogar nítida aproximação da comunidade que sua unidade de informação atende, que no caso das bibliotecas públicas é diversificado, o que reflete em um grande desafio para o profissional responsável por descrever os artefatos informacionais. Quando o conhecimento acerca do padrão de metadados é pequeno, isto irá refletir no processo de recuperação da informação, além de ser um entrave para colaboração, troca de conhecimentos e boas práticas entre as bibliotecas públicas, algo que poderia enriquecer os catálogos e formas de recuperação a informação em acervos que são múltiplos e ricos em regionalidade.

Entretanto, a não exploração dos padrões de metadados e linguagens de marcação modernas pode estar associado ao ensino e a formação do bibliotecário, por isso se torna problemático colocar profissionais de outras áreas para realizar tal atividade, resultado em baixa circulação e até mesmo desaparecimento da obra no acervo. Concorda-se com Modesto (2021, p. 19), quando afirma que “Uma boa formação no ensino da catalogação deve habilitar o futuro bibliotecário da catalogação a exercer a atividade catalográfica de forma produtiva e inovadora”. Além disso, a falta de instrumentos mais avançados nas bibliotecas públicas pode ser reflexo das políticas estaduais, que ainda carecem de um melhor direcionamento do olhar para a modernização dos recursos dessas instituições, visto os orçamentos destinados serem escassos e não contemplarem aquisição de softwares modernos, adoção de padrões que demandam custos elevados de tradução, capacitação, dentre outros fatores também apontados no estudo de Santos & Arakaki (2022).

Nessa esteira, dá-se continuidade indagando-se acerca do procedimento de descrição dos materiais bibliográficos que integram o acervo e como é o realizada a catalogação, cujas respostas podem ser observadas no Quadro 3, a seguir:

Quadro 3.
Processo de descrição relatado pelas bibliotecas públicas estaduais participantes da pesquisa
BIBLIOTECA PÚBLICAPROCESSO DE DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS BIBLIOGRÁFICOS E O PROCEDIMENTO DE CATALOGAÇÃO
AO processo consiste em analisar o item e as informações contidas no mesmo. Na ausência de dados, realizar buscas em plataformas de catalogação cooperativa para complementação de dados. (Incluir detalhes que possam fazer sentido para buscas mais avançadas, como notas de conteúdo, eventos, coleções, conteúdo da obra e outros). Pensar formas de descrição para que o item seja recuperado por qualquer usuário. Descrever e indexar do assunto mais geral para o mais específico. Verificar a consistência do registro realizado e certificar-se de que ele está elegível para ser disponibilizado para consulta. ('Amarrar' assuntos que se complementam e possam fazer sentido juntos ou separados).
BRealizada análise temática com auxílio de planilha de assuntos já catalogados no sistema
COs itens são catalogados por meio do Sistema PHL-8, onde cada um recebe um cadastro específico, conforme o tipo de material. O acervo da biblioteca é dividido e organizado em 12 Coleções Temáticas. Antes da catalogação, cada item é devidamente carimbado, tombado e magnetizado; posteriormente (após a catalogação) cada item é etiquetado (etiqueta de lombada) e também recebe uma identificação por cor conforme a Coleção a que pertence.
DPor tópicos nas pratileiras
EProcesso feito automaticamente no sistema Pergamum
FCatalogacao cdd
GUtilizando o software livre, todos os materiais dessa biblioteca são completamente descritos no processo de catalogação.
HO processo de catalogação é realizado em fichas catalográficas, de tamanho 7,5cm x 12,5cm. As descrições são informadas nas fichas manualmente, de acordo com as regras do AACR2.
IUsamos a catalogação nivel 2 e 3. Utilizamos CDU para a classificação.
JPesquisa na base de dados para analisar a descrição do livro no acervo, em caso negativo, busca em catálogos de outras bibliotecas, determinação da área do livro e preenchimento da base de dados da instituição (ArchesLib)… descrição no formato Marc21. Classificação e descrição feitas por Bibliotecário
KDescrição no nível básico dentro do Sistema Pergamum de catalogação bibliográfica.
LTemos uma base de dados com descritores já pré-definidos.
MUtilizamos o AACR2. O sistema de classificação utilizado para a indexação é a Classificação Decimal de Dewey. A base de terminologia segue a estrutura da lista de Cabeçalhos de Assunto da Biblioteca Nacional.
NO processo de catalogação é simplificado e poucos campos são preenchidos. Para saber mais, acesse nosso catálogo: https://bsp.org.br/catalogo/.
Oem breve será todo digitalizado em um único servidor. (em processo)
Fonte: dados da pesquisa (2023).

Foram coletadas 16 repostas, sendo duas da mesma instituição, resposta esta, que foi possível notar a existência de um padrão no processo desta instituição, talvez até mesmo um treinamento e um manual para auxiliar o bibliotecário, conforme pontuado pela Biblioteca Pública E. A Biblioteca Pública A descreve o processo de catalogação, evidenciando a preocupação em “Pensar formas de descrição para que o item seja recuperado por qualquer usuário.”, fator determinante para uma biblioteca pública, visto sua missão primeira que é a garantia de acesso a uma gama de informações e ideias sem censura (IFLA, 2022). A Biblioteca Pública J destaca a busca de informações em catálogos de outras instituições, algo que poderia ser agilizado caso o sistema adotado pela biblioteca favorecesse essa importação de dados. Nota-se que as instituições ainda realizam atividades manuais, sem usufruir da automação dos sistemas de representação, bem como reuso de dados de forma colaborativa.

Observa-se, também, alguns conflitos nas informações prestadas e a qual se buscava, visto algumas bibliotecas públicas indicarem: “Por tópicos nas prateleiras” (Biblioteca Pública B, 2023), “Processo feito automaticamente no sistema Pergamum” (Biblioteca Pública G, 2023), “em breve será todo digitalizado em um único servidor (em processo)” (Biblioteca Pública L, 2023). Porém, chama atenção o fato de uma instituição ainda realizar o processo de maneira manual: “O processo de catalogação é realizado em fichas catalográficas, de tamanho 7,5cm x 12,5cm. As descrições são informadas nas fichas manualmente, de acordo com as regras do AACR2” (Biblioteca Pública K, 2023). Essas evidências reforçam os desafios que as bibliotecas públicas convivem, sobretudo quando se trata de infraestrutura tecnológica para o processo de catalogação, ou seja, fatores acarretam dificuldades para o exercício profissional dos indivíduos que estão à frente desse processo nas instituições, bem como para a efetivação do seu papel social perante a comunidade (Miranda, Gallotti, & Cecatto, 2017).

No encerramento da seção do instrumento acerca do processo de catalogação foi questionado aos respondentes qual o nível de descrição a instituição adota frente aos materiais que integram o seu acervo, na perspectiva de conhecer qual o tratamento dado e como isso reflete na catalogação. A distribuição dos resultados pode ser observada no Gráfico 5, a seguir:

Gráfico 5.
Nível de descrição
Nível de descrição
Fonte: dados da pesquisa (2023).

Conforme disposto no Gráfico 5, a maioria dos respondentes indicaram que adotam o nível de descrição entre o intermediário (45%) e básico (33%), enquanto 17% reportaram trabalhar com esquemas avançados e uma instituição (5%) exaustivo. A carência de profissionais nas bibliotecas impacta no processo de catalogação, fator que pode explicar a predominância dos níveis intermediário e básico na catalogação, visto que em alguns Estados são poucos os concursos que contemplam as bibliotecas públicas, as quais contam com um número restrito de profissionais, os quais se dividem no serviço de referência e Informação, atividades de mediação, participação em conselhos, dentre outras. Para que se alcance os níveis avançado e exaustivo requer do profissional: concentração, pesquisa, consultas a outros catálogos, vocabulários controlados e isso demanda tempo. Esse pensamento vai ao encontro do que afirmam Calheiros & Prado (2023, p. 218), quando advertem que as bibliotecas públicas estão cada vez mais vulneráveis e essa situação é impulsionada pelo “[...] descaso governamental e obsolescência do seu funcionamento institucional”.

Nessa chave de pensamento, buscou-se identificar se as instituições respondentes utilizavam algum tipo de vocabulário controlado e, em caso afirmativo, quais são desenvolvidos e aplicados na biblioteca. Percebeu-se que 52%, dos 18, afirmaram que fazem uso desse instrumento. Por fim, a última pergunta foi realizada para conhecer quais os vocabulários controlados desenvolvidos e utilizados pelas bibliotecas. Foram coletadas somente nove respostas, sendo que um participante faz uso de três vocabulários controlados distintos (taxonomia, tesauro, lista de cabeçalhos de assunto ou lista de autoridades), os oito restantes marcaram somente a lista de cabeçalhos de assunto ou lista de autoridades.

Cabe destacar que foram obtidas 18 respostas, padrão que se manteve em todo o questionário, tendo perguntas abertas com menor adesão e as perguntas fechadas com adesão de todos os participantes. As perguntas serviram como base para definirmos padrões através das respostas dos participantes, sendo possível notar em suas respostas quem tinha um domínio maior dos itens indagados e os que não tinham.

Por fim, as instituições participantes da pesquisa foram indagadas acerca do uso de metadados/descritores/sistemas interoperáveis desenvolvidos em outra instituição e, em caso afirmativo, quais e qual a instituição(es) foram responsáveis pela elaboração. Acerca dessa questão as respostas foram sistematizadas no Quadro 4, a seguir:

Quadro 4.
Uso de metadados/descritores/sistemas interoperáveis desenvolvidos em outra instituição
BIBLIOTECA PÚBLICAUTILIZA METADADOS/DESCRITORES/SISTEMAS INTEROPERÁVEIS DESENVOLVIDOS EM OUTRA INSTITUIÇÃO
AOs principais são: Biblioteca Nacional, Library of Congress, Pergamum UFMG, UEMG, Rede Pergamum
FPergamum da PUC e cooperamos com a Biblioteca Nacional
GUsamos o programa PHL
KAnalisamos os descritores da Biblioteca Nacional. Mas apenas analisamos os termos através da base de dados. Não temos parceria formal.
LRede Pergamum e Biblioteca Nacional
MRede Pergamum
NNa realidade, em alguns momentos, fazemos uma busca na biblioteca nacional e biblioteca da UFC para nos basearmos sobre os descritores e também a classificação.
PUma de nossas fontes para colocar os descritores em nosso acervo é: Fundação Biblioteca Nacional.
Fonte: dados da pesquisa (2023).

Observa-se que as instituições, em sua maioria, afirmaram reutilizar metadados oriundos da Biblioteca Nacional e da Rede Pergamum, além dos dados fornecidos pela Library of Congress e redes de bibliotecas universitárias como a da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tal evidência endossa a importância dos metadados para o compartilhamento e reuso de descrições de forma padronizada na web, como reforçam Jesus, Castro & Ramalho (2021), além de consolidar os catálogos das redes indicadas, as quais oferecem elementos descritivos capazes de atender as demandas das bibliotecas participantes da pesquisa. Defende-se que essa colaboração pode facilitar o processo de catalogação nas bibliotecas públicas e representar ganho de tempo para que, talvez, se eleve os níveis de descrição e, com isso, seus catálogos alcancem as especificidades dos públicos que fazem uso dessas instituições, bem como a diversidade de artefatos que integram seus acervos.

Finda-se que foi possível averiguar, por meio desta investigação e do instrumento utilizado, sobretudo a partir das perguntas abertas, que mesmo sendo ações rotineiras de uma biblioteca, as atividades de representação da informação nas bibliotecas públicas são marcadas por desafios e barreiras, as quais podem ser reflexo das estruturas governamentais as quais estão filiadas, ausência de investimento público, políticas públicas que não alcançam totalmente as suas demandas, dentre outros fatores. Observou-se, também, a predominância na utilização do Pergamum, do MARC21 e do AACR2, enquanto CDU e CDD apresentaram poucas menções. Os vocabulários controlados, também apresentaram uma baixa adesão nas respostas, sendo a lista de cabeçalhos de assunto os instrumentos mais mencionados pelas instituições participantes da pesquisa.

Considerações finais

Ao finalizar este estudo, destaca-se que foram encontradas algumas dificuldades durante o processo, dentre elas a falta de engajamento por parte dos profissionais e as barreiras para obter contato com as bibliotecas públicas estaduais, bem como a ocorrência de espaços que confirmaram o recebimento da pesquisa, mas nunca retornaram. Com isso, não foi possível ter uma visão mais ampla do tema estudado, explicitando-se a necessidade de continuidade deste estudo, no sentido de obter mais aferições sobre o perfil da catalogação e representação descritiva da informação junto às bibliotecas públicas estaduais brasileiras. Apesar desses entraves, a pesquisa contou com um universo amostral de quase 40% e mostrou-se efetiva, considerando que sua abordagem foi qualitativa e que conseguiu trazer informações relevantes, corroborando os desafios enfrentados pelas bibliotecas públicas já conhecidos a partir de um olhar sensível dessa realidade.

O objetivo central da pesquisa de identificar os instrumentos de representação da informação, e vocabulários controlados utilizados pelas bibliotecas públicas estaduais no Brasil, pode se considerar alcançado. Não de maneira que seja capaz de trazer uma cartografia nacional das bibliotecas públicas estaduais, mas permitiu depreender de maneira pontual a realidade das bibliotecas que participaram do trabalho, o qual expressa o uso de recursos de catalogação ainda limitados, visto os avanços dos instrumentos de descrição. Observou-se a persistência de dinâmicas de trabalho manuais, as quais ficam restritas ao profissional da informação, como o uso de tabelas de assunto internas, fichas catalográficas manuais, entre outras.

As evidências denotaram também a adoção de níveis de descrição básicos e intermediários, ainda que algumas instituições tenham indicado o reuso de dados da Biblioteca Nacional e da Rede Pergamum, para a realidade das bibliotecas públicas, cuja gama de usuários é demasiadamente diversa e matizada, recomenda-se uma catalogação avançada, visando contemplar elementos descritos mais robustos e que sejam capazes de representa a complexidade de cada comunidade atendida. Além disso, é pertinente destacar que o processo de representação da informação vai além da descrição dos materiais, se faz necessário investigar o grau de conhecimento dos profissionais bibliotecários atuantes em bibliotecas públicas acerca da representação temática e demais esquemas de classificação.

Portanto, advoga-se pelo fortalecimento de políticas que contribuam com a capacitação dos profissionais de biblioteconomia atuantes nas bibliotecas públicas, não somente estaduais, de modo que estes atualizem-se perante os instrumentos de representação da informação e disponham de infraestrutura para sua prática e efetive o papel dessas instituições em consonância com as missões defendidas pelas IFLA. Cabe ampliar este estudo para que a realidade brasileira seja depurada e se analise outras minúcias dos processos de catalogação descritiva e representação temática nas bibliotecas públicas. Por se tratar de um diagnóstico, estima-se que estes dados possam contribuir com estudos de atualização dos instrumentos empregados pelas instituições participantes da pesquisa.

Roles de colaboración

Maurício José Morais Costa

Conceptualización, investigación, metodología, análisis formal, escritura - revisión y edición, redacción.

Bruno Fortes Luce

Conceptualización, investigación, metodología, análisis formal, escritura - revisión y edición, redacción.

Maria Cleide Rodrigues Bernardino

Metodología, análisis formal, escritura - revisión y edición, redacción.

Financiamientos o patrocinios:

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Anexo - Instrumento de recolecção de dados

Pesquisa sobre Instrumentos de Representação da Informação nas Bibliotecas Públicas Estaduais

E-mail:

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido:

Prezado(a) participante:

  • Você está sendo convidado(a) a responder às perguntas deste questionário de maneira totalmente voluntária;

  • Você tem o direito de desistir de sua participação nesta pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma penalidade;

  • Você está ciente que as suas respostas podem fazer parte de pesquisas que gerem futuras publicações;

  • Caso o participante opte pelo anonimato ressaltamos que os dados pessoais serão preservados e não divulgados.

Objetivo do estudo: Identificar os instrumentos de representação da informação, e vocabulários controlados utilizados pelas bibliotecas públicas estaduais no Brasil.

Procedimento: Sua participação nesta pesquisa consistirá apenas no preenchimento de um questionário de perguntas abertas e perguntas fechadas.

Sim ( ) Não ( )

Informações gerais

  1. Instituição que atua:

  2. Cargo:

  3. Formação:

  4. Há quanto tempo atua nesta instituição:

Qual o seu nível de conhecimento sobre:

  1. Vocabulários controlados

    1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10 ( )

  2. Tesauros

    1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10 ( )

  3. MARC21

    1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10 ( )

  4. Cabeçalhos de assunto

    1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10 ( )

  5. Outros:

Qual o padrão de metadados utilizado no sistema de catalogação?

Descreva como é o processo de descrição dos materiais bibliográficos que integram o acervo/como é o procedimento de catalogação:

  1. Qual o nível de descrição dos materiais que integram o acervo:

    Básico ( ) Intermediário ( ) Avançado ( ) Exaustivo ( )

    Fazem uso de vocabulários controlados?

    Sim ( ) Não ( )

  2. Se sim, quais Vocabulários controlados, são desenvolvidos e utilizados na biblioteca:

    Taxonomia ( ) Tesauro ( ) Ontologias ( ) Listas de cabeçalhos de assunto ou Lista de autoridades ( )

  3. Conhece o procedimento de catalogação colaborativa?

    Sim ( ) Não ( )

  4. A sua biblioteca utiliza metadados/descritores/sistemas interoperáveis desenvolvidos em outra instituição:

    Sim ( ) Não ( )

Se sim, quais e qual a instituição(es) que elaborou(ram) o material:

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Notas

1 Para este trabalho optou-se somente em apresentar os instrumentos que fizeram parte do questionário.
2 Para esse primeiro momento não foi levado em conta as repetições de bibliotecários da mesma instituição.
3 O instrumento pode ser consultado na íntegra no seguinte endereço eletrônico: https://drive.google.com/file/d/1cpPT3X61jGGMw55KPfEPpl-kWZhzu0sm/view

Recepción: 16 Mayo 2023

Aprobación: 24 Abril 2024

Publicación: 01 Octubre 2024

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